Jogos eletrônicos para idosos podem melhorar o raciocínio e diminuir o declínio cognitivo? Confira e surpreenda-se

Os jogos eletrônicos para idosos vem se tornando cada vez mais comuns, embora não seja incomum a resistência à tecnologia por parte deste público.

Para falar sobre o tema, convidamos Fabio Ota, sócio fundador da International School of Game (ISGAME) que nos traz resultados animadores.

Fábio é especialista em gamificação pela University of Pennsylvania e professor convidado na Pós Graduação / Especialização em Geriatria do Hospital Sírio Libanês (Efeitos de Videogames na cognição, interação e humor de pessoas idosas).   

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Diferenças entre a fase adulta e a terceira idade

Acvida: Quais as principais diferenças observadas, entre um adulto saudável e um idoso saudável, do ponto de vista cognitivo? Como o envelhecimento afeta o raciocínio e a agudeza mental do ser humano?

Fábio: Existem estudos que comprovam que a partir dos 50 anos todos têm um declínio cognitivo natural. O envelhecimento físico e mental é natural do ser humano, o que podemos fazer é trabalhar na prevenção para diminuí-lo.

É normal observarmos que as pessoas quando chegam em uma certa idade, ou se aposentam, pensem em cuidar da parte física e esqueçam da parte mental. O ideal é trabalharmos ambas, não esquecendo da socialização.

Temos visto muitos adultos com mais de 70 anos em condições melhores do que adultos entre 50 e 60 anos. Normalmente são pessoas que tentam manter atividades físicas, mentais e sociais.

Benefícios dos jogos eletrônicos para idosos

Acvida: Quais os principais benefícios dos jogos eletrônicos para idosos?

Fábio: Já em 2013 a publicação internacional Nature International Weekly Journal of Science apresentou resultados de análises e pesquisas, comprovando que a utilização de videogames aumentou o desempenho cognitivo dos idosos e seus ganhos permaneceram por 6 meses. 

Esse achados sugeriram que pode existir muito mais plasticidade no cérebro de um idoso do que se imaginava anteriormente.

Jogos eletrônicos para idosos

Em 2016 a ISGAME teve o projeto “Programação de games para o desenvolvimento do raciocínio lógico e prevenção do declínio cognitivo em idosos” aprovado no Programa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pela PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresa).

As conclusões deste trabalho foram animadoras: através dos dados obtidos observamos que os games podem ser benéficos para a manutenção da atividade cognitiva.

Este estudo comparou três grupos de idosos: os que participaram de cursos de inclusão digital, os que aprenderam a jogar games e os que desenvolveram os próprios games (atividade de programação).

Observou-se que o grupo que obteve melhores resultados nos testes cognitivos foram os de desenvolvedores de games, seguidos pelos praticantes de jogos eletrônicos para idosos (jogadores de games).

Concluiu-se que a melhora cognitiva pode ser obtida principalmente quando a metodologia de ensino estimula o uso de raciocínio lógico e atenção, o que ocorre nos grupos de jogadores e desenvolvedores (programadores).

Resumindo: as atividades com videogames efetivamente melhoraram a concentração, memória e qualidade de vida do idoso.

Acvida: Quantas horas por dia/semana são recomendados, no mínimo, para que os benefícios dos jogos eletrônicos para idosos sejam percebidos?

Fábio: É recomendado de 10 a 60 minutos por dia, 3 vezes por semana. Essa recomendação é baseada em nossos estudos. O ideal é que o idoso comece com pelo menos 10 minutos por dia, para ir se acostumando.

Também recomendamos um máximo de 1h30 diária, pois como é uma atividade que exige do cérebro, alguns idosos a partir de 1h começam a sentir cansaço e se desconcentram, sendo esse o momento de parar o jogo e fazer outra atividade.

Jogos eletrônicos para idosos

Acvida: Indivíduos com demência também podem se beneficiar dos jogos eletrônicos para idosos?

Fábio: Sim, existem alguns jogos desenvolvidos que ajudam a trabalhar a memória, lógica e raciocínio abstrato. Porém, recomendamos que este perfil de pessoas sempre esteja acompanhada por um cuidador familiar ou profissional.

O que fazer quando o idoso tem resistência à tecnologia?

Acvida: Muitos idosos têm resistência a inserir a tecnologia em sua rotina. Como diminuir essa resistência?

Fábio: É normal as pessoas terem uma certa resistência ao “novo”, e a tecnologia agrava essa resistência por exigir habilidades que os idosos não se familiarizaram desde cedo.

Com o isolamento social em função da pandemia do Covid-19, a importância de se aprender a usar a tecnologia (para se comunicar com outras pessoas ou acompanhar cursos e palestras online) ajudou a despertar o interesse dos idosos e a quebrar algumas barreiras.

Porém, é necessário que os cursos e atividades sejam pensados no perfil e velocidade de aprendizado dos idosos.

Respondendo a sua pergunta diretamente: é preciso ter muita paciência e criatividade para ter uma aula de tecnologia que ao mesmo tempo desmistifica e seja leve, de forma que todos se sintam sem pressão de ter que aprender tudo de uma vez.

Existe contraindicação para idosos nas telinhas?

Acvida: Alguns vídeo-games vem com alertas de que seu uso é contraindicado em casos específicos, por exemplo, por pessoas epiléticas. Existem outras contraindicações ao uso dos jogos eletrônicos para idosos?

Fábio: A maioria dos jogos foram desenvolvidos para crianças e jovens. São poucos jogos no mundo que são desenvolvidos especificamente para o público idoso. Algumas contraindicações já são conhecidas, mas não existem estudos específicos para idosos.

O que sabemos e verificamos em nossos estudos é que os idosos saudáveis são adultos como qualquer outro, e podem fazer atividades físicas e mentais de acordo com sua capacidade. O que diferencia é se a pessoa tem algum problema conhecido, como epilepsia, independentemente da idade.

Acvida: Gostaria de dar alguma dica ou orientação para os cuidadores de idosos dependentes e seus familiares?

Fábio: Ressalto que é muito importante o cuidador ou familiar acompanhar com muita atenção o idoso no momento do jogo. Já observamos casos de irritação ou desanimo por não conseguir concluir determinada fase (etapa) do jogo.

É nessa hora que a intervenção é necessária, seja para ajudá-lo, seja para interromper o jogo e fazer outra atividade.

Conheça o aplicativo Cérebro Ativo da ISGAME

https://youtu.be/bV9GReLdbWo

O Aplicativo Cérebro Ativo possui games para saúde mental com ênfase no público acima de 60 anos. Utiliza o conceito do modelo biopsicossocial para integrar monitoramento da saúde com treinamento de habilidades cognitivas, físicas e sociais

Baixe gratuitamente em aqui.

Leia ainda:  

Estudos comprovam eficácia dos jogos eletrônicos para idosos na prevenção do declínio cognitivo, clique aqui para ler (da Fapesp – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo).

Desenvolvimento de games previne declínio cognitivo de idosos (Science Magazine).