Inclusão digital de idosos

Inclusão digital de idosos é muito mais do que ensiná-los a utilizar o celular e as redes sociais. É fazê-los mais felizes através de ferramentas capazes de conectar as pessoas e encurtar distâncias, tornando a vida melhor.

Leia também:

Estatuto do idoso: conhecer para respeitar

Não contrate um cuidador de idosos antes de ler

O envelhecimento precisa ser pauta da sociedade

Celular para idoso: saiba como a tecnologia pode ajudar a terceira idade

Saiba mais sobre o tema com o especialista Ricardo Pessoa, sócio-diretor da Sênior Geek, empresa especializada na capacitação de idosos para o mundo digital.

O que é a inclusão digital de idosos?

Acvida: Muito se fala da inclusão digital de idosos. Pode falar de como o Facebook, Instagram e outros aplicativos mudam a vida dos idosos?

Ricardo: Esses aplicativos facilitam nossa vida. Basta olhar como se tornou mais fácil e mais barato pegar um táxi, pedir comida, fazer mercado em casa ou pagar as contas pelo aplicativo do banco. Essas plataformas nos devolvem amigos há muito perdidos, nos permitem conhecer novos e achar quem gosta do que gostamos, seja isso crochê, tecnologia ou cozinhar.

Em outras palavras, eles nos devolvem a participação em família e na sociedade, aumentam nossa autonomia e contribuem diretamente para nossa qualidade de vida e alegria de viver.

É preciso reconhecer que hoje é impossível socializar, trabalhar ou exercer a cidadania plenamente sem habilidades digitais básicas. Sem elas somos párias na sociedade, excluídos do convívio social e profissional, temos nossa voz calada.

Isso é verdade para qualquer idade e mais ainda para os sêniores, vistos em geral como desatualizados, incapazes de aprender, meio “inúteis”. A inclusão digital de idosos pode ajudar com isto.

Temos (os idosos) medo de mexer com tecnologia, rotulamos as interfaces (telinhas) como difíceis sem ao menos tentar. Assim vamos nos isolando e nos retirando de uma vida ativa, sem perceber que é tudo uma grande mentira.

Basta olhar para o lado. O mundo está cheio de gente com mais de 60 relevante, revolucionando os setores que atuam. Gente ativa, que se atualiza, que mantém e cresce seu círculo de amigos.

É essa mudança que pode começar com o uso dos aplicativos.

Acvida: Há casos de pessoas que reencontram familiares, colegas de escola ou mesmo pessoas perdidas através das redes sociais. O que mais é possível ao promover a inclusão digital de idosos?

Ricardo: Realizar uma consulta médica , fazer compras ou jogar com amigos. Em resumo: viver a vida como os mais novos fazem.

Nós, do Seniorgeek, produzimos atividades bem legais que demonstram isso. No caso de namoros, por exemplo. A gente promoveu, sempre em conjunto com nossa empresa mãe, a Casa Séfora, uma série de encontros discutindo relacionamentos entre pessoas com mais de 50 anos.

https://www.instagram.com/p/CFFOwo-lk09/?utm_source=ig_web_copy_link

Outro ponto é poder revisitar o passado, seja ouvindo músicas que foram trilha sonora de momentos importantes, ou revendo filmes que marcaram nossas vidas através de plataformas como a Netflix e Youtube.

Friso também a acessibilidade para a leitura. Com o passar do tempo, nossos olhos ficam cansados e ler fica chato mesmo com óculos. O livro em papel se torna pesado. Mas porque não ouvir em audiobook ou aumentar as letras com o Kindle? 

Segurança no mundo digital

Acvida: A segurança do idoso no mundo digital é uma preocupação. Como minimizar os riscos? Como se expor menos aos crimes digitais durante o processo da inclusão digital de idosos?

Ricardo: A gente fala de crimes digitais o tempo todo, a imprensa adora falar disso. Todo dia vem um golpe novo, uma nova forma de roubar as pessoas, especialmente no whatsapp e nos pagamentos eletrônicos.

E esses afetam todo mundo, independentemente da idade. As causas quase sempre estão ligadas a duas coisas: ignorância e ganância.

Ignorância vem do desconhecimento do mundo digital, de como funcionam aplicativos e transações eletrônicas. Isso se combate com educação e conhecimento.

Todo mês promovemos um encontro no Seniorgeek, trazendo especialistas para desmistificar temas relevantes, como este sobre segurança e privacidade. Clique aqui para conferir na íntegra.

Além dos encontros, promovemos cursos #deseniorparasenior. Neles a gente explica o passo a passo de um aplicativo ou serviço, o que é a nuvem, etiqueta nas redes e dicas de segurança.

Por fim, estamos sempre atentos e avisando nossos seguidores quando aparece um golpe na praça, como este aqui.

Quanto ao segundo ponto, a ganância, vale o recado: se uma coisa parece muito boa para ser verdade, é porque provavelmente não é verdade.

Acvida: Sobre o Senior Geek, como auxilia na inclusão digital de idosos? Como auxilia idosos, seus familiares e cuidadores a se tornarem mais conectados e felizes?

Ricardo: Trabalhamos em 3 pontos principais.

Primeiro, promovendo os encontros que são bate papos sobre tecnologia como os que citei. Confira outros sobre negócios de impacto e tecnologia e sobre Abordagens Ágeis.

Segundo, com nossos cursos. Eles são feitos para quem não entende nada do assunto e quer saber como funciona e se usa o WhatsApp, como se limpa a memória do celular ou como se publica um vídeo na internet.

O terceiro ponto é o desenvolvimento de negócios. Nós promovemos o empreendedorismo sênior, fomentando negócios para e por sêniores. Queremos trazer a terceira idade para a vida ativa, seja como parte de uma empresa, seja como autônomo, seja como colaborador de uma organização.

Um exemplo das iniciativas que promovemos é o Saber Para Cuidar, empresa de saúde totalmente criada e operada por pessoas com mais de 60 anos. 

Pergunta dos leitores: O que fazer quando a pessoa tem resistência à inclusão digital de idosos?

Ricardo: Trazê-lo (o idoso) para conhecer o Seniorgeek e a Casa Séfora (risos). Ele vai conhecer um monte de gente que pode ajudar a desmistificar a tecnologia e facilitar suas conexões.

Não tem idade para isso, tem interesse. E quem não quer conhecer gente, bater papo e ainda aprender uma novidade ou duas? Dou como exemplo a Vovó Neusa, uma blogueira de 90 anos (!) que dá cursos para um aluno (Sr. Floriano Camargos) de 99 anos e 5 meses (!!), como ele faz questão de grifar.

Terceira idade no mundo digital

Pergunta dos leitores: Qual a maior dificuldade da terceira idade ao entrar no mundo digital?

Ricardo: O medo do novo. Segundo o especialista Gustavo Andrade, “tecnologia é tudo aquilo que não existia quando você nasceu“. Fácil é o que já sabemos e difícil é o que ainda vamos saber.

As pessoas precisam perder o medo de errar. A inclusão digital de idosos é boa, acreditem!

Pergunta dos leitores: Existe alguma contra-indicação para a inclusão digital de idosos?

Ricardo: Sim, existe. Entrar nesse mundo digital sem conhecimento é um risco para qualquer idade. As mesmas ansiedades que acometem os mais jovens viciados em redes sociais, os mesmos debates vazios das bolhas políticas, tudo isso atrai também os sêniores, principalmente aqueles que desconhecem como lidar com essas situações.

Entender a etiqueta das redes ajuda. Um bate papo no Facebook é diferente de um bate papo no LinkedIn ou WhatsApp, assim como saber que o perfil com quem você interage pode ser simplesmente um robô. Não é muito diferente de entrar em turma nova (na escola), mas pode ser desafiador.

Uma dica: não se levar tão a sério ajuda. 

Pergunta dos leitores: Como idosos com demência, assim como seus cuidadores, também podem se beneficiar da tecnologia?

Ricardo: Temos casos onde pessoas com Alzheimer ficaram reconhecidamente mais calmas ao ouvir músicas do tempo em que eram jovens. Saber localizar conteúdos e mostrá-los àqueles que cuidamos pode ajudar e muito.

Fala-se de demência como uma designação genérica, mas são inúmeras patologias diferentes com tratamentos distintos. A maioria, porém, tem uma coisa em comum: a estimulação cognitiva quase sempre ajuda.

Veja que interessante o caso de uma ex-bailarina com Alzheimer ao ouvir as músicas de seus tempos de balé.