Os impactos do Alzheimer para além dos doentes (nos familiares e cuidadores de idosos)

Mais de 50 milhões de pessoas no mundo tem demência, da qual a mais prevalente é o Mal de Alzheimer. Os impactos do Alzheimer são enormes e bem conhecidos nos idosos, mas nem tanto nos cerca de 200 milhões de familiares e cuidadores (4 em média para cada doente) que lidam diretamente com a condição. Apenas cuidando do cuidador (familiar e profissional) é que será possível garantir a qualidade de vida dos idosos.

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Mês de conscientização sobre o Alzheimer

Setembro é o mês de conscientização sobre o Alzheimer, e não poderíamos deixar o mês se encerrar sem falar daqueles que, conscientemente, mais são afetados pela doença: os familiares e cuidadores de idosos.

Pouco se discutem as consequências das demências para além dos doentes acometidos, e este é um tópico que merece ser revisitado e ampliado.

Impactos do Alzheimer para além da pessoa com demência

A especialista Maria Alice Toledo, médica e psicogeriatra da UnB (Universidade de Brasília), em entrevista ao CB Saúde do jornal Correio Braziliense, fez uma alerta relevante dos impactos do Alzheimer sobre quem cuida.

Mais de 80% dos cuidadores (familiares que acompanham os idosos doentes) vão desenvolver quadros depressivos.

Há anos, nós do Blogdocuidado alertamos sobre a necessidade de prestar atenção àquele que se dedica a cuidar, seja um cuidador familiar, seja um cuidador profissional, para minimizar os impactos do Alzheimer sobre todos os envolvidos na cadeia que atende o idoso. Saiba mais sobre o tema no artigo (com vídeo) cuidando do cuidador de idosos.

Após a pandemia de Covid-19, e do consequente isolamento social que esta gerou, os cuidados com a saúde mental receberam muito mais atenção do que antes. Mesmo assim, pouco se faz, de forma efetiva, para prevenir e tratar problemas psicológicos e psiquiátricos dos familiares e cuidadores, como ansiedade e depressão, que cresceram e continuam a crescer em números alarmantes em todo o mundo.

Confira o relato de Ana Paula B., cliente Acvida Cuidadores, sobre sua experiência pessoal com o cuidado de um familiar acometido, há anos, por um quadro demencial.

É essencial lançar o olhar para os cuidadores. Existe uma doença chamada síndrome do cuidador, amplamente conhecida no meio médico, que acomete os ‘familiares cuidadores’, aqueles que se dedicam a cuidar de um ente querido.

Muitas vezes, o olhar da sociedade é somente para o paciente portador de Alzheimer. Vamos ampliar nosso olhar de cuidado nesse mês do Alzheimer aos cuidadores. Para cuidar, é preciso ser cuidado sempre, isso não é egoísmo, isso é sobrevivência e saúde.

Ana Paula conhece bem a realidade daqueles que se dedicam a cuidar de um ente querido com Alzheimer. Além da rotina mentalmente desgastante, vale observar outro detalhe cruel: não importa quantos filhos, irmãos ou netos o idoso possua; na prática, todo o cuidado costuma recair sobre uma única pessoa, geralmente uma mulher, que além de receber pouca ou nenhuma ajuda dos demais, é cobrada de forma constante e muitas vezes injusta.

Neste sentido, o treinamento ainda hoje oferecido pelos comissários de bordo previamente à decolagem de um avião comercial, explica bem a necessidade de cuidar de si mesmo antes de se pensar em cuidar de mais alguém:

Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente do teto. Ajuste primeiro a sua, respire normalmente, e só então auxilie crianças, idosos e outras pessoas com dificuldades.

O recado é direto: ninguém vai conseguir cuidar de outrem (outro ser humano) se não tiver condições de se cuidar, ou seja, se não cuidar primeiro de si mesmo.

… as pessoas perguntam como está meu pai… e me sinto muitas vezes julgada por não estar morando com ele, apesar da mudança total da minha vida e acompanhamento diário (que tenho com ele), com mil atividades (que as vezes me deixam sem condições de pensar nas minhas próprias atividades e compromissos).

Ana Paula B.

A pressão sobre aquele que cuida é multifatorial, ou seja, é tanto interna quanto externa: às vezes, um simples olhar atravessado no elevador, por parte de um vizinho que desconhece os detalhes da vida do idoso, é suficiente para relembrar o cuidador familiar dos impactos do Alzheimer sobre si.

Ao concluir seu desabafo, Ana Paula faz reverberar a voz de muitas das 200 milhões de pessoas envolvidas no cuidado a uma pessoa com demência.

O chamado é somente para ampliar o olhar de cuidado: o paciente com Alzheimer precisa de todos os cuidados e seu cuidador também.

Muitas vezes, um simples sorriso pode aliviar os impactos do Alzheimer no dia a dia de quem se dedica a uma pessoa dependente. Lembremo-nos disso!

Cuidar de si mesmo

Nunca é demais repetir medidas para acompanhar e cuidar da própria saúde, dentre elas:

  • Respeite seus horários de sono: manter-se cansado durante o dia, ou à base de estimulantes, não é normal;
  • Tire pelo menos uma hora por dia para descansar ou quebrar a rotina, assim como um dia por semana, um final de semana inteiro por mês, uma semana por semestre. Descansar não significa ficar ocioso, mas fazer alguma atividade diferente do trabalho, mudar o ritmo cotidiano com algo que ocupe a mente de forma prazerosa;
  • Tenha e respeite sua rotina alimentar (procure um nutricionista);
  • Honre os compromissos assumidos consigo mesmo(a);
  • Crie o hábito de iniciar e finalizar atividades, não deixe nada pela metade e depois esqueça;
  • Seja feliz ao seu estilo, não ao estilo dos outros;
  • Viva menos o brilho das redes sociais e mais as interações com pessoas reais;
  • Leve a vida menos à serio: tudo na vida tem um sentido, mesmo que não nos pareça claro no momento dos acontecimentos.

Se precisar de ajuda para aliviar os impactos do Alzheimer, não hesite em procurar um psicólogo, psiquiatra ou uma pessoa de sua confiança para conversar.