Envelhecimento saudável: estratégias para uma ótima saúde nos últimos anos

Envelhecimento saudável é possível quando mantemos atenção aos detalhes. Nesta postagem trazemos o médico Márcio Dytz, doutor em endocrinologia e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologista e Metabologia (Regional DF), para falar um pouco sobre a importância do cuidado com nosso corpo e sobre as mudanças no metabolismo durante o processo de envelhecimento.

Envelhecimento saudável e qualidade de vida

Dr. Márcio Dytz, quais as principais alterações fisiológicas na terceira idade relacionadas ao sistema endócrino? Quais as principais diferenças observadas ao longo da vida, por exemplo, entre um adulto saudável, um idoso com mais de 60 anos e aqueles com mais de 80 anos?

Dr. Márcio Dytz: Com o envelhecimento, ocorrem mudanças naturais em nosso corpo e isso pode ser analisado do ponto de vista endócrino. Vou comentar separadamente as alterações hormonais que ocorrem com o passar dos anos.

  • Metabolismo ósseo: o ser humano atinge o pico de massa óssea aos 25 anos de idade e a seguir ocorre uma redução gradual da massa óssea. Nas mulheres, quando entram na menopausa, o processo de perda de densidade óssea é aumentado e resulta no maior risco de osteoporose e fraturas ósseas nessas pacientes.
Envelhecimento saudável
  • Tireoide: a função tireoidiana é sensivelmente controlada pelo hormônio estimulante da tireoide (TSH). No envelhecimento, após o 60 anos, é natural um leve aumento dos valores de TSH em relação a população adulta, de forma que aos 80 anos, valores de 7,0 – 8,0 mUI/L podem ser considerados normais e devem ser interpretados dentro do quadro clínico do paciente. Existem estudos com pacientes centenários (sobrevida >
    100 anos) que mostram o papel protetor do aumento do TSH nessa faixa etária. Vale ressaltar que entre os idosos devemos realizar a reposição de levotiroxina com parcimônia, com incremento leve e gradual da dose do hormônio e evitar o hipertireoidismo – que pode resultar em maior risco de arritmias e osteoporose.
  • Hormônios gonadais (estrogênio na mulher): nas mulheres ocorre a falência ovariana de forma abrupta caracterizada como menopausa, ela pode ser diagnosticada após 12 meses sem ciclo menstrual. Quando ocorre antes dos 40 anos, é caracterizada menopausa precoce e a idade média da menopausa no Brasil é 51 anos. Nas mulheres sintomáticas com queixas de fogachos (ondas de calor),
    alterações do humor, redução do libido e dispareunia (dor durante a relação sexual), pode ser avaliado junto ao endocrinologista a indicação de terapia de reposição hormonal.
  • Hormônios gonadais (testosterona no homem): nos homens, a redução hormonal de
    testosterona é lenta e gradual com início aos 40 – 50 anos e redução dos níveis de testosterona de aproximadamente 1% ao ano. Logo, quando o homem atinge 60 – 70 anos, podem surgir sintomas de hipogonadismo masculino (baixa testosterona no homem), caracterizados como disfunção erétil, perda do libido, redução de pelos, redução da vitalidade e força muscular. Esse quadro também deve ser avaliada de forma criteriosa pelo endocrinologista e discutir com o paciente os riscos e benefícios da terapia de reposição androgênica.

Como se preparar para a velhice

Quais cuidados são importantes para se ter qualidade de vida mesmo com as alterações fisiológicas do envelhecimento?

Dr. Márcio Dytz:  Excelente pergunta, afinal é muito melhor prevenir do que tratar uma complicação. Vou explicar melhor: após um derrame cerebral não é fácil o manejo das complicações motoras e cerebrais e muitas vezes o paciente fica com sequelas permanentes.

Mas se você realizar um bom trabalho com um estilo de vida adequado, você evitará o derrame e outras comorbidades, aumentando suas possibilidades de um envelhecimento saudável.

Orientações para preservar a qualidade de vida e possuir uma vida longeva

  1. Realizar uma dieta equilibrada com alimentos naturais e restringir alimentos ultraprocessados
  2. Beber 2 a 3 litros de água/dia
  3. Manter o peso dentro alvo (IMC 18,5 – 25 kg/m2)
  4. Realizar atividade física moderada a vigorosa (ao menos 30 minutos/dia, 4x por semana, ou com acompanhamento profissional adequado)
  5. Evitar o tabagismo
  6. Pacientes com hábito etílico, consumir moderadamente (ex: 1 taça de vinho/dia para mulheres e 2 taças/dia para homens)
  7. Faça higiene de sono e possua um sono restaurador 
  8. Acompanhamento médico regular e realizar exames periódicos
  9. Mantenha seu raciocínio ativo com leituras ou outras atividades que estimulem o pensamento
  10. Preserve suas amizades e mantenha um relacionamento saudável com as pessoas ao redor

Quais as doenças endócrinas mais comuns com o envelhecimento

Dr. Márcio Dytz: Primeiramente, gostaria de destacar o Diabetes Mellitus que acomete 1 em cada 11 adultos no mundo.

Diabetes em idosos

O Brasil é 4° país no mundo em número de diabéticos com aproximadamente 14 milhões de brasileiros. Quase metade dessa população com diabetes desconhece o diagnóstico.

O diabetes mellitus tipo 2, que é responsável por 90% desses casos, inicia-se a partir dos 40-50 anos e está associado a forte herança genética acompanhado de hábitos de vida desregrados com ingesta alimentar hipercalórica e excesso de açúcares com relação muito próxima com a obesidade e outras desordens metabólicas.

Mas devo destacar outras patologias endócrinas comuns do idoso.

Doenças comuns no idoso (endocrinologia)

  • Dislipidemia (aumento da taxa de colesterol): caso não seja adequadamente tratado aumenta o risco de eventos cardiovasculares maiores (infarto e derrame)
  • Osteoporose: com redução da densidade óssea, deve ser avaliada após a menopausa nas mulheres e após os 70 anos nos homens
  • Nódulos tireoidianos: os extremos da idade são fatores de risco para malignidade, logo novos nódulos tireoidianos em pacientes idosos devem ser avaliados e em casos selecionados, pode ser necessário realizar biopsia (PAAF) e cirurgia
  • Diabetes mellitus: doença configurada pelo aumentos dos níveis de glicose (açúcar no sangue), como já citada é bastante comum e mesmo assim muito ignorada.

Hábitos para um envelhecimento saudável

Quando se fala em hábitos de vida dos idosos, em linhas gerais, há comportamentos que devem ser evitados ou praticados para diminuir ou compensar os problemas endocrinológicos mais comuns?

Dr. Márcio Dytz: É natural no processo de envelhecimento, a mudança do paladar, além de alterações de arcada dentária (com necessidade de uso de dentadura) e pela praticidade, e os idosos reduzirem a ingesta de carne e proteína animal e priorizarem pães, massas e outros alimentos pobres em proteína.

Isso pode agravar a perda de massa muscular e resultar num quadro chamado de sarcopenia, que está intimamente ligado à síndrome do idoso frágil, aumento no índice de quedas e mortalidade. Um método mais sensível para avaliar a massa muscular em idosos é o perímetro da panturrilha (perímetro superior a 31 cm indica um quadro de normalidade).

Dessa forma, é fundamental o idoso possuir uma dieta equilibrada com a quantidade ideal de calorias para o seu perfil físico, priorizar alimentos naturais e fresco e reduzir a ingesta da alimentos ultra processados.

A ingesta de água é outro hábito que deve ser estimulado, principalmente em idosos que podem desidratar com maior facilidade, acompanhado da prática de exercícios físicos de forma regular e com intensidade de acordo com a sua capacidade física.

Destaco que a atividade física do idoso deve ter consentimento do seu médico para evitar que o treino precipite ou piore uma doença cardiovascular preexistente.

O que é necessário para um envelhecimento saudável

É sabido que a alimentação desequilibrada está diretamente relacionada com doenças como diabetes, osteoporose e obesidade. Além do controle alimentar, o que as pessoas podem fazer para diminuir o risco de desenvolver tais problemas?

Dr. Márcio Dytz:  A obesidade é uma doença metabólica com alta prevalência no mundo. No Brasil, 1 em cada 2 adultos está acima do peso e 1 em cada 5 possui obesidade. Logo é fundamental um estilo de vida saudável com dieta equilibrada para evitar o ganho de peso exagerado ao longo da vida. Mas vale destacar que na população idosa, os alvos de IMC são diferenciados.

Índice de Massa Corporal

IMC Estado nutricional
< 22 kg/m2 Desnutrição
– 27 kg/m2 Eutrofia
> 27 kg/m2 Sobrepeso

Nesse contexto, na abordagem do paciente idoso obeso, toleramos o peso um pouco maior do que em pacientes adultos. Isto porque a perda de peso exagerada no idoso comumente é acompanhada de perda de massa muscular e massa óssea.

Pessoas que foram sedentárias em boa parte da vida tem restrições (de forma geral) ou perda de benefícios se resolverem iniciar um programa de exercícios na terceira idade?

Dr. Márcio Dytz: Pessoas com longo histórico de sedentarismo devem iniciar a atividade física de forma gradual e progressiva, sob orientação de educador físico e após autorização do médico.

Em pacientes idosos deve-se realizar a estratificação cardiovascular com teste ergométrico e, se necessário, cintilografia de estresse de miocárdio ou ecocardiograma de estresse.

Mesmo após longo período de sedentarismo, o início da atividade física traz inúmeros benefícios na vida pessoa. Cabe destacar alguns:

Benefícios de exercícios na terceira idade

  1. Aumento da capacidade física
  2. Aumento da massa magra/muscular
  3. Aumento da densidade óssea e redução do risco de fratura
  4. Melhora do equilíbrio e estabilidade da marcha
  5. Reduzir o risco ou melhora do controle de doenças metabólicas como: diabetes, hipertensão, aumento do colesterol, gordura no fígado e obesidade
  6. Melhora psicossocial e aumento da autoestima
  7. Maior longevidade 

Há uma frequência recomendada para o idoso se consultar com o médico endocrinologista após os 60 anos? Em caso negativo, quais problemas/sintomas podem desencadear tal necessidade?

Dr. Márcio Dytz:  A frequência da avaliação médica com endocrinologista é algo individual e relacionado com as comorbidades do paciente. Vou explicar melhor: pacientes diabéticos em uso de insulina devem ser avaliados habitualmente a cada 3 meses.

Já pacientes diabéticos com bom controle com medicamento oral podem ser avaliados a cada 6 meses. Em alguns casos, até uma avaliação anual pode ser razoável, como em nódulos tireoidianos de baixo risco ou pacientes com osteoporose com boa adesão ao tratamento (a densitometria óssea deve ser repetida em 12 meses).

Sugiro discutir com o seu médico endocrinologista qual o intervalo adequado entre as consultas que deve seguir. 

Qual a importância e a frequência indicada para realização da dosagem de hormônios em idosos? Em que condições homens e mulheres na terceira idade precisam fazer reposição hormonal?

Dr. Márcio Dytz:  A avaliação do eixo hormonal gonadal deve ser indicada principalmente na vigência de sintomas. Nas mulheres, o momento adequado é durante a menopausa ou climatério (período que antecede a menopausa, mas a mulher já apresenta sintomas de deficiência estrogênica).

E a reposição com estrogênio e progesterona é indicada para as mulheres sintomáticas e que não possuam contraindicação ao tratamento.

Nos homens, os sintomas de falência androgênica costumam ser mais tardios, entre 60 – 80 anos. A indicação para realizar a dosagem também é baseado na presença de sintomas de hipogonadismo.

Pessoas com Tireodite de Hashimoto ou Hipotireoidismo, que tomaram Levotiroxina (hormônio) por anos, devem perceber alguma alteração significativa após chegar à terceira idade?

Dr. Márcio Dytz:  O paciente idoso que abre um quadro de disfunção tireoidiana não costuma apresentar os sintomas clássicos. Logo é importante para o endocrinologista suspeitar de doença tireoidiana mesmo quando o paciente idoso apresenta sintomas atípicos. 

Ressalto que o paciente com Hipotireoidismo de Hashimoto costuma atingir uma estabilidade de dose de levotiroxina e esta deve ser avaliada pelo menos anualmente.

E grandes variações de peso ou presença de transtornos disabsortivos (dificuldade para absorver nutrientes) podem alterar a dose de levotiroxina necessária, justificando nova dosagem e avaliação. E nos pacientes idosos é fundamental evitar dosagem de levotiroxina acima do desejado, pelo risco de osteoporose e arritmias.

Dicas do especialista

Os idosos muitas vezes possuem múltiplas comorbidades com a necessidade de tomar vários medicamentos ao longo do dia. Para melhorar a adesão ao tratamento, e por conseguinte aumentar a qualidade de vida e sobrevida, devemos organizar os remédios, criar tabelas para que seja fácil memorizar ou utilizar recursos como o Diário do Cuidador de Idosos.

Outro cuidado que deve ser destacado é criar medidas que reduzam o risco de quedas entre os idosos, especialmente aqueles que apresentem osteoporose. Coisas simples como a utilização de tapetes antiderrapantes, apoio dentro do chuveiro, iluminação no corredor, dentre outros, podem fazer toda a diferença.

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O Dr. Márcio Dytz atende no IDEB, Instituto de Diabetes e Endocrinologia de Brasília, telefone (61) 3039-8439.

Endereço físico: SHS Quadra 06 conjunto A Bloco E, Sala 1119, Edifício Brasil 21, Brasília/DF

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