Quando o idoso não deve morar sozinho?

Quando o idoso não deve morar sozinho? A ideia de que, em um determinado momento, os filhos tornem-se os pais de seus pais pode não ser apenas um clichê.

Idoso não deve morar sozinho

Com a longevidade, é essencial que os familiares (ou quem for responsável) tenham um olhar mais atento aos idosos da família.

Atenção aos idosos

O estatuto do idoso prevê o direito à moradia digna na terceira idade. Na prática, é preciso levar em conta mais do que o teto; é preciso pensar em questões como a higiene, a segurança pessoal, organização da casa, a independência do idoso, e outros fatores que podem atrair a atenção da família para a pergunta do título: o idoso não deve morar sozinho a partir de quando?

Idoso

Via de regra, caso a pessoa não seja capaz de se cuidar e de se manter bem, considerando o seu bem-estar e integridade física/emocional, não deve ficar desassistida.

Idoso morando sozinho

Familiares devem ficar atentos aos sinais de que a saúde do idoso não está bem e de que pode ser necessário interferir.

O desejo e a escolha da própria pessoa, se esta for capaz de decidir por si, são extremamente relevantes e não devem ser negligenciados.

Não cabe à família expropriar o idoso de suas decisões, mesmo sendo com o argumento de protegê-lo.

Mas caso este (ou esta) não tenha mais condições de decidir por si, é obrigação moral e legal dos familiares e responsáveis não se abster de ajudar, inclusive em casos que podem requerer uma ação de interdição judicial (curatela).

Morar sozinho

A seguir, os profissionais da Acvida Cuidadores respondem dúvidas enviadas por nossos leitores sobre o tema “quando o idoso não deve morar sozinho”.

A partir de qual idade o idoso é considerado incapaz?

Sandro Souza, gerente da unidade Acvida Asa Sul: Não existe uma resposta exata a essa pergunta, afinal, depende muito do estado em que cada idoso se encontra.

Normalmente, será necessário acompanhamento mais próximo quando se identifica problemas na locomoção, na cognição ou na manutenção das atividades de vida diária, de modo que esses fatores tornem o idoso um risco para si mesmo.

A incapacidade física é mais fácil de ser aceita e percebida do que a diminuição da cognição, e alguns sinais podem ajudar a realizar este acompanhamento.”

Rita Ferreira, psiquiatra do Programa Terceira Idade do IPq do HC da FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). 

Pode deixar um idoso sozinho?

Sandro Souza: É necessário analisar caso a caso, pois tudo vai depender das condições físicas e mentais da pessoa idosa. Aquele que abandona uma pessoa for incapaz incorre em crime de “abandono de incapaz”, como tipificado na legislação.

O idoso não deve morar sozinho caso não esteja com plenas funções mentais (consciência). Reforço que, mesmo sem alterações cognitivas, deve-se considerar fatores como sua saúde física e emocional, sua estabilidade financeira, e sua capacidade de cumprir com suas atividades de vida diária como já citado (higiene pessoal e alimentação, por exemplo). 

É crime deixar o idoso morando sozinho?

Sandro Souza: Vamos acompanhar o que diz o estatuto do idoso. Segundo seu artigo 37 (Lei 10741/03), a pessoa acima de 60 anos tem direito a ter uma moradia digna, sendo acompanhada ou não de seus familiares, em uma instituição pública ou privada (como uma ILPI ou Casa de Repouso).

Como saber quando o idoso não deve morar sozinho?

O idoso em estado de plena consciência pode decidir como pretende viver, sendo acompanhado ou não. Em resumo: é preciso considerar os casos em que o raciocínio e o poder de decisão esteja afetado devido a uma doença ou à idade.

Nestes casos, a pessoa não deve morar sozinha e deve necessariamente ser acompanhada por um cuidador de idosos familiar ou profissional. 

Quais são os riscos quando o idoso não aceita o cuidado?

Aline Macedo, gerente da unidade Acvida Asa Norte: Cito abaixo os mais comuns, que acendem o alerta na família de que algo não vai bem e que talvez o idoso não deva morar sozinho.

  • Acidentes recentes ou quase-acidentes: Com o envelhecimento, aumentam as chances de quedas, e é fundamental dar atenção a isso mesmo que o idoso diga que “não foi nada“. Por exemplo, existe um preconceito social com o uso de bengala (muitos idosos pensam isso), mas a verdade é que o artefato serve de um ponto de apoio capaz de ajudar a evitar quedas, assim como a cadeira de banho.
  • Recuperação lenta: Mesmo em doenças corriqueiras, como uma dor de barriga, é importante buscar ajuda e tratamento. Se faltou essa iniciativa, é importante avaliar o porquê. Dificuldades e limitações podem mudar os hábitos do idoso e, muitas vezes, ele precisa de companhia para manter sua rotina de cuidados com a saúde e a alimentação, para citar alguns pontos.
  • Dificuldade em gerenciar as atividades cotidianas: Observar as habilidades necessárias para viver de maneira independente, como vestir-se, cozinhar, cuidar das medicações. Se o idoso passa a agir e se apresentar de forma diferente do que era habitual, vale ficar em alerta.
  • Dificuldade no autocuidado: higiene precária, alimentação inadequada (insuficiente ou exacerbada), comportamento desajustado (isolamento, apatia, extroversão demasiada), dificuldade com as finanças, descontrole no acompanhamento de sua saúde são sinais que podem apontar algum problema.
  • Perda ou ganho de peso visível: uma pessoa que passa a ter dificuldades de locomoção para sair e fazer compras, ou preparar o alimento, irá enfrentar mudanças na rotina alimentar. Isso vai afetar o peso, que pode diminuir ou até aumentar, porque a pessoa passa a trocar uma refeição saudável por lanches e preparos mais fáceis e rápidos.
  • Observe o conteúdo da geladeira e despensas: confira se não há alimentos vencidos e estragados, se os produtos são saudáveis e corriqueiros da alimentação habitual desse idoso, se não há uma quantidade exagerada de um determinado produto. Tudo isso pode ser sinal de alerta.
  • Mudanças na aparência: As roupas estão limpas e ordenadas ao corpo, os cabelos estão penteados, o odor é desagradável? Não se cuidar por esquecimento ou falta de vontade pode ser sinal de que algo não vai bem. É fundamental buscar diagnóstico porque algumas demências são reversíveis.
  • Coisas quebradas e queimadas: As demências provocam o declínio das funções cognitivas, reduzindo as capacidades de trabalho e interferindo no comportamento e na personalidade da pessoa, trazendo perda de memória recente. Portanto, observe se as bocas do fogão estão escuras ou se os fundos das panelas estão queimados; também confira se há rastros de desleixo na manutenção da casa, como lâmpadas queimadas há muito tempo, itens quebrados ou acúmulo de papéis. Tais sinais podem indicar esquecimento e falta de atenção, por isso devem ser investigados.
  • Descontrole financeiro: Contas vencidas, saldo negativo no banco, pedido de empréstimo consignado sem necessidade são situações que podem dar indícios de alguma confusão mental. Há casos em que o idoso também pode estar passando por necessidade e, por vergonha, não avisa a família. Por isso, monitoramento é essencial, mas com atenção para não causar constrangimentos. Tome cuidado para não abordar o tema apenas criticando, sem valorizar as suas potencialidades; apontar apenas os déficits pode causar um sofrimento emocional constrangedor.

Antes de tomar qualquer decisão sobre se o idoso não deve morar sozinho ou não, vá a uma consulta médica com o geriatra, acompanhe-o ao supermercado, confira as receitas e veja se os medicamentos estão sendo tomados no horário certo.

Na dúvida, não hesite em admitir que precisa de um cuidador de idosos.

O cuidador do idoso pode ser alguém da família?

Aline Macedo: Sem dúvida. Quando o idoso não deve morar sozinho, as mulheres, de modo geral, costumam assumir a tarefa; essa é a realidade da maioria das famílias. A única filha, a nora, aquela que tem mais afinidade, mais disponibilidade (de tempo, financeira, de espaço físico em casa); usualmente as mulheres lideram as questões relacionadas ao cuidado, ou até mesmo atuam como cuidadoras diretamente.

Mas atenção: ter um familiar que toma a frente não quer dizer que um cuidador profissional não possa ajudar. Em muitos caso, na verdade, deve haver um cuidador para não sobrecarregar os demais e tornar a presença do idoso um fardo.

Conflito familiar

A convivência entre os familiares pode ser uma experiência harmoniosa ou conflituosa, também por causa do estresse emocional que é lidar com uma doença incapacitante na família.

Conviver com o declínio das capacidades físicas e mentais dos genitores, avós ou tios, não é nada fácil, e se não for bem conduzida pode até adoecer aqueles que estão em volta.

É importante ainda reconhecer para evitar os impactos das demências para além dos doentes (nos familiares e cuidadores de idosos).

Dividir as tarefas e discuti-las com todos na família é essencial para não sobrecarregar ninguém.

A sobrecarga das providências de cuidados e a priorização do tempo em função das demandas do assistido podem impactar severamente a saúde do responsável pelo dependente.

A melhor alternativa é contar com apoio quando o idoso não deve morar sozinho.

A opção pela contratação de profissionais que assumam integralmente os cuidados é, quando possível, a alternativa que melhor exonera todos os membros da família, e principalmente o responsável direto.

Essa escolha não exclui o familiar do convívio e da supervisão dos cuidados, pois é fundamental acompanhar o desempenho dos cuidadores e a qualidade dos serviços prestados.

Descobrir que o idoso não deve morar sozinho não deve ser sinônimo de problemas e conflitos familiares.

A melhor evidência da qualidade dos serviços de um cuidador de idoso é a aparência da pessoa assistida, além de seu estado de espírito do assistido (ele ou ela está feliz?)

Além disso, recomenda-se com alguma frequência:

  • Inspecionar a integridade da pele e mucosas;
  • Ler as anotações dos registros dos cuidadores:
  • Verificar uso correto e racional de medicamentos, materiais e cosméticos;
  • Perguntar ao assistido, caso a opinião seja segura, sobre a satisfação com os profissionais;
  • Perceber alterações de humor, sentimentos de insegurança e expressões do assistido na presença de cada cuidador (para aqueles incapazes de verbalizar);
  • Acompanhar eventualmente o banho e as trocas de fraldas para avaliar a execução de técnicas de cuidados;
  • Caso o profissional faça o acompanhamento nas consultas médicas, pergunte reservadamente (longe da presença do idoso) sobre como ocorreram e quais as recomendações médicas;
  • Pergunte aos profissionais de saúde (médicos, fisios, fonos, terapeutas ocupacionais e afins) a opinião deles sobre a atuação e relação dos cuidadores com o assistido. Deve-se averiguar também com vizinhos e outros profissionais da residência;
  • Se possível, monitorar a casa com a instalação de câmeras (esse acesso pode ser compartilhado com toda a família para avaliar os cuidados – com a discrição necessária no caso de banhos e trocas de roupas): câmeras de monitoramento são favoráveis também aos profissionais, pois promovem o reconhecimento de bons serviços, fortalecem a confiança, inibem a atuação Ilícita e auxiliam na apuração justa em caso de furtos e maus tratos.

Perguntas frequentes

Abaixo respondemos as perguntas enviadas por nossos leitores.

Quando um idoso não deve morar sozinho?

De maneira bastante resumida, como já expusemos no artigo: quando se tornar um risco para si próprio, ou mais as pessoas em volta dele, ou ainda em casos de alienação mental (como no caso de demências).

Quais são os sinais de que um idoso não deve viver sozinho?

Comportamentos estranhos, emagrecimento exagerado e fora do padrão, discursos que não condizem com a realidade, por exemplo, quando a pessoa afirma que acabou de almoçar, mas não há louça suja ou lavada, a despensa está vazia, bem como também está vazia a geladeira; estes são alguns do sinais comumente percebidos.

Como decidir se um idoso precisa de cuidados e não deve morar sozinho?

Discuta a situação com os familiares e/ou pessoas próximas, e procure orientação médica.

Quais são as alternativas para idosos que não podem morar sozinhos?

As principais incluem dispor de cuidadores de idosos particulares, sejam familiares ou profissionais contratados, ou mesmo se mudar para uma ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos), também conhecida como Lar de Idosos ou Residenciais Sêniores.