Sistema Urinário do idoso: entenda com funciona

Conhecer melhor o sistema urinário do idoso é fundamental para que cuidadores e familiares ajudem a prevenir problemas, como as tão comuns infecções do trato urinário (ITU).

Neste artigo, o Dr.Aurélio Ricardo Troncoso, cirurgião geral e residente do Serviço de Urologia do Hospital de Base do Distrito Federal, responde algumas perguntas feitas por nossos leitores.

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O médico urologista deve ser procurado apenas reativamente (quando se identifica um problema) ou também é possível pensar de forma preventiva? Há diferenças, relativamente ao sistema urinário do idoso, na abordagem para homens e mulheres? 

Dr. Aurélio: Inicialmente é preciso desmistificar a ideia equivocada de que o Urologista é um médico de homens. O Urologista é o médico especializado no trato urinário tanto de homens quanto de mulheres (rins, ureteres, bexiga, uretra) e exclusivamente órgãos encontrados apenas em homens como a próstata, pênis e testículos.

A busca pelo atendimento por médico Urologista deve ser feita de rotina pelos pacientes, mesmo que assintomáticos, uma vez que há várias doenças que em seus estágios iniciais são silenciosas e não irão gerar sinais ou sintomas a serem relatados pelo paciente.

Por exemplo, cerca de 5% dos brasileiros são portadores de doença calculosa do trato urinário (“pedra nos rins”, “pedra na bexiga”…), o que em números absolutos, corresponde a cerca de 10 milhões de pessoas. Outros exemplos são os tumores renais (60% são descobertos acidentalmente após algum exame de imagem abdominal) e o câncer de próstata que em seus estágios iniciais geralmente não apresenta nenhum sinal ou sintoma.

No geral a avaliação dos pacientes não difere quanto ao sexo, excetuando no estudo dos órgãos que são encontrados apenas nos homens (próstata, pênis e testículos). 

Diferenças entre o adulto e idoso

Quais as principais diferenças observadas ao longo da vida, do ponto de vista do sistema urinário do idoso? Quais as principais diferenças entre homens e mulheres?

Dr. Aurélio: Um adulto saudável não apresentará queixas urinárias, realizando a micção de maneira espontânea e sem alterações.

Com o avanço da idade sabe-se que algumas alterações podem acometer o trato urinário dos pacientes levando a sintomas diversos como diminuição do jato urinário, dificuldade em esvaziar a bexiga de maneira satisfatória, necessidade de ir ao banheiro diversas vezes ao longo do dia, acordar à noite inúmeras vezes para urinar, incontinência urinária.

Usualmente tais queixas tendem a piorar com o avançar da idade, principalmente (mas não exclusivamente) em decorrência de alterações na próstata (em homens) e enfraquecimento da musculatura da pelve (em mulheres).

A grande diferença entre homens e mulheres é a presença da próstata, que com o avançar da idade nos homens tende a ter um aumento de seu volume, podendo gerar sintomas obstrutivos que diminuem muito a qualidade de vida dos pacientes.

O que pode ser a dor ao urinar

Dor ao urinar: o que este sintoma pode estar escondendo no sistema urinário do idoso?

Dr. Aurélio: A dor ao urinar (disúria) pode ter diversos fatores causais. O mais comum entre eles é a infecção do trato urinário que pode ser tratada com o uso de antibióticos específicos para o micro-organismo que coloniza a urina.

Porém há outras doenças que também podem gerar dor ao urinar como a hiperplasia prostática benigna, câncer de próstata, lesões na uretra, câncer de bexiga, dentre outras. A avaliação junto ao profissional especializado (Urologista) é de grande importância para a correta identificação da causa e sem tratamento adequado.

Bexiga Hiperativa

O que seria uma bexiga hiperativa? Quais suas causas e consequências ao sistema urinário do idoso? Quais os tratamentos disponíveis e quando se aplicam?

Dr. Aurélio: A bexiga hiperativa se caracteriza segundo a Sociedade Internacional da Continência (ICS) como “urgência, com ou sem incontinência, geralmente com aumento da frequência miccional e noctúria, na ausência de alguma outra condição metabólica ou patológica subjacente”.

Em outras palavras, vontade súbita de urinar podendo haver ou não perda de urina, normalmente associada a aumento das idas ao banheiro ao longo do dia e acordando a noite para urinar sem outra doença associada a estes sintomas.

Os tratamentos vão desde medidas comportamentais, como redução da ingesta de bebidas cafeinadas, redução da hidratação, micções programadas, fisioterapia pélvica até uso de medicações (antimuscarínicos e agonistas beta-3), estimulação elétrica do nervo tibial, aplicação de toxina botulínica e cirurgias para ampliação vesical.

A aplicabilidade de tais tratamentos é definida pela intensidade dos sintomas e na resposta aos tratamentos preconizados. Sintomas leves podem ser resolvidos com medidas comportamentais. Quando há falha desses ou sintomas moderados, o uso de medicações se faz presente.

A estimulação elétrica pode ser indicada em pacientes refratários ao tratamento medicamentoso. A aplicação de toxina botulínica está indicada para pacientes que possam ter acompanhamento frequente e regular e que aceitem a realização do cateterismo vesical intermitente.

A cirurgia de ampliação vesical está indicada para casos raros e selecionados onde há falha de todas as terapias anteriores.

Bexiga neurogênica

O que seria uma bexiga neurogênica? Quais suas causas e consequências ao sistema urinário do idoso? Quais os tratamentos disponíveis e quando se aplicam?

Dr. Aurélio: A bexiga neurogênica (Disfunção Neurogênica do Trato Urinário Inferior) de acordo com a Sociedade Internacional da Continência (ICS) é resultado de doenças e lesões às vias neuronais e/ou as junções neuromusculares que controlam as funções do trato urinário inferior.

Várias doenças podem causar a bexiga neurogênica, como Acidente Vascular Cerebral, Tumor cerebral, Paralisia Cerebral, Doença de Parkinson, Esclerose Múltipla, Lesão medular, Mielodisplasia, cirurgias pélvicas extensas, Diabetes Melitus.

Os tratamentos disponíveis vão desde controle adequado de doenças de base como a Diabetes Melitus e Doença de Parkinson até a realização de cateterismo vesical intermitente e cirurgias para derivação urinária ou condutos cateterizáveis.

A avaliação e aplicação de tratamento devem ser realizados junto ao Urologista pois são casos que devem ser individualizados e adequados as necessidades e doenças de base de cada paciente.

Intervenção de medicamentos para problemas urinários

Com o passar dos anos alguns homens apresentam dificuldade para urinar. O que pode ocasionar isso e quando pode ser o caso de uma intervenção medicamentosa ou cirúrgica? A condição também pode atingir mulheres?

Dr. Aurélio: A causa mais prevalente de dificuldade para urinar em homens com piora relacionada ao aumento da idade é a Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) que em termos gerais é o aumento benigno do tamanho da próstata.

Essa doença irá ocorrer em maior ou menor intensidade em todos os pacientes do sexo masculino com o passar dos anos, com início mais comumente a partir dos 50 anos.

A necessidade do uso de medicações para diminuir o tamanho da próstata se faz necessária em pacientes que apresentem sintomas urinários irritativos e obstrutivos com prejuízo significante a qualidade de vida, como: diminuição do jato urinário, intermitência do jato urinário, sensação de não esvaziamento completo de bexiga, aumento do número de micções durante o dia, levantar várias vezes à noite para urinar, dor ao urinar, sangramento na urina, dentre outros.

A indicação de realização de cirurgia se faz necessária quando a terapia medicamentosa não é eficaz para diminuir os sintomas referidos pelo paciente e/ou quando a próstata alcança tamanhos muito maiores do que a normalidade. A hiperplasia prostática benigna é uma doença da próstata, portanto nenhuma mulher será acometida por essa doença.

Vale lembrar que há outras doenças que podem levar a dificuldade de urinar em homens e mulheres e que apenas um Urologista saberá identificar a causa e o tratamento adequado para cada situação.

Cuidado ao sistema urinário do idoso com demência

Quais são as principais dificuldades, relativas ao sistema urinário do idoso, no cuidado de alguém com Alzheimer ou outros tipos de demência?

Dr. Aurélio: Os pacientes que apresentam Mal de Alzheimer e outros tipos de demência, com a progressão da doença de base, se tornarão cada vez mais dependentes de terceiros para a realização de atividades básicas como se alimentar, deambular e a realização de higiene pessoal.

Sabe-se que a má higienização da glande (nos homens) e da vulva (nas mulheres) está relacionada a uma maior probabilidade de que bactérias possam colonizar o trato urinário e causar infecções de urina.

Portanto, em pacientes com Alzheimer e com outras demências, que são dependentes de terceiros para higienização das partes íntimas, é de suma importância que esta seja feita de maneira cuidadosa com o intuito de evitar complicações que possam gerar dentre diversas doenças a infecção de urina. 

Sondas de coleta de urina

Quais são os tipos de sondas de coleta de urina que cuidadores podem se deparar ao acompanhar um idoso? Quais são aquelas que apenas um profissional de saúde especializado (técnico ou enfermeiro) podem operar, e quais podem ser manuseadas por cuidadores? Quais são os principais cuidados e os riscos associados ao manuseio de tais dispositivos?

Dr. Aurélio: As principais sondas para coleta de urina são as sondas de alívio (Nelaton) e de demora (Foley).

Nos casos do cateterismo intermitente, a sonda de alívio pode ser manuseada pelo próprio paciente ou por familiar quando previamente treinados por equipe especializada.

Em casos de cateterismo de alívio utilizando-se a sonda de alívio, os materiais devem ser manuseados apenas por profissionais da saúde, uma vez que trata-se de procedimento estéril. O manuseio da bolsa coletora não estéril para despejo da urina desprezada pode ser realizado tanto por familiar quanto por profissional da saúde.

Já o cateterismo vesical de demora deve ser realizado por enfermeira treinada no procedimento ou médico. A manutenção da higiene da sonda após sua instalação deve ser realizada por equipe de técnicos de enfermagem. O despejo da urina presente em saco coletor estéril usualmente deve ser realizado por equipe de técnicos por tratar-se de sistema estéril.

Baixo consumo de água interfere na saúde

Como um baixo consumo de líquidos, água em especial, pode impactar a saúde do sistema urinário do idoso? Há orientações particulares para familiares e cuidadores?

Dr. Aurélio: A baixa ingesta de líquidos, água em específico, tem grande impacto no corpo humano, não só no trato urinário. A baixa ingesta hídrica está intimamente relacionada a um aumento na probabilidade de formação de cálculos no trato urinário e infecções de urina.

Atenção redobrada deve ser dada ao grupo de idosos pois nesta idade reduz-se significativamente a busca ativa pela hidratação, levando a desidratação e outros distúrbios no corpo humano.

É de vital importância que o cuidador saiba identificar essa situação e estar sempre presente ofertando doses regulares de líquidos ao longo do dia visando a adequada hidratação do idoso.

Consumo de sal interfere na saúde

Como o consumo exagerado de sal pode afetar a saúde do sistema urinário do idoso? 

Dr. Aurélio: A alta ingesta de sal presente em uma dieta desregrada é um dos principais fatores de risco para a formação de cálculos no trato urinário, principalmente nos rins, condição denominada nefrolitíase.

Cálculos pequenos podem ser acompanhados regularmente sem necessidade de intervenção cirúrgica. Porém cálculos maiores tendem a necessitar de procedimento cirúrgico para sua resolução.

Casos complexos podem inclusive levar a necessidade de retirada cirúrgica de todo o rim e em situações extremas levar a necessidade de realização de terapia de substituição renal (hemodiálise).

Portanto, uma alimentação balanceada e regrada na ingesta de sal é de grande importância na prevenção para formação de cálculos no trato urinário e suas possíveis complicações futuras.

Gostaria de dar alguma dica ou orientação para cuidadores e familiares de idosos dependentes?

Dr. Aurélio: Pacientes idosos dependentes geralmente não conseguem expressar suas queixas da maneira clara como uma pessoa saudável é capaz.

Nesses casos os familiares e cuidadores tem papel primordial na identificação de pequenas alterações que o idoso possa apresentar, sendo peças de informações valiosas que irão auxiliar a equipe multiprofissional a identificar possíveis problemas de saúde nesses pacientes e instituir as medidas de tratamento ou mesmo prevenção adequadas para uma melhor assistência em saúde de tais pacientes.

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