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A violência contra o idoso no Brasil não se resume a agressões físicas. É importante reconhecer e discutir o tema para entender como evitar.
A violência contra o idoso pode ocorrer de várias formas.
Os tipos mais comuns incluem a violência física (como bater no idoso), violência psicológica ou emocional (como fazer o idoso sentir-se constrangido ou humilhado), violência financeira (como no caso de familiares de que se utilizam de recursos dos idosos para si), violência sexual (mesmo em conversas, quando isto for contra a vontade e princípios do idoso) e a violência por negligência (deixar de agir quando necessário, sejam os responsáveis pelo idoso ou ele próprio sendo negligente consigo).
Detalharemos cada tipo de ação violenta ao longo do artigo.
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Os avanços tecnológicos da medicina têm permitido um aumento expressivo e contínuo na expectativa de vida da população. Mas, lamentavelmente, a violência contra o idoso cresce enquanto aumenta a idade média da população.
Atos agressivos contra a pessoa idosa estão presentes nas mais diversas camadas sociais e regiões do país. Eles ocorrem tanto dentro como fora do ambiente familiar. Até mesmo em serviços de saúde podemos encontrar tratamentos abusivos.
Diante de tal contexto, apenas a indignação tardia não basta. É preciso prevenir esse tipo de ocorrência e existem meios seguros para isso.
Hoje vamos conversar sobre a violência contra o idoso e de que formas podemos evitá-la e combatê-la. Afinal, os idosos são a experiência e a sabedoria do ontem que se estende a nós no amanhã. Proporcionar dignidade e carinho nessa fase delicada da vida é fundamental.
A violência contra o idoso define-se como “ação única ou repetida, ou falta de ação apropriada, ocorrendo em qualquer relacionamento onde exista uma expectativa de confiança, que cause dano ou sofrimento a uma pessoa idosa” (OMS – Organização Mundial de Saúde).
Agressão verbal contra idosos é qualquer ação como falar num tom de voz inadequado, seja baixo demais (com fins de excluir o idoso da conversa) ou gritar de maneira ofensiva. Ofender, ridicularizar ou criticar constantemente também são consideradas agressões verbais, assim como acusar ou culpar o idoso indevidamente.
Outras formas não verbais, como ignorar a presença, mandar o idoso se calar, abandoná-lo e não acolhê-lo (ou não demonstrar afetividade) também são consideradas formas de agressão verbal.
Qualquer resposta sim para alguma destas perguntas deve acender um sinal de alerta.
“Há idosos que sentem-se melhor na presença de cuidadores introvertidos (mais calados). Outros, preferem cuidadores que sejam bons para conversar. É preciso entender e respeitar as preferências do idoso em cada momento.”
Adriano Machado, sócio/fundador da Acvida
Acompanhe trechos da entrevista que o fundador da Acvida, Adriano Machado, deu à revista AVE MARIA, a publicação católica mais antiga do Brasil.
Revista Ave Maria: Em 2018, o governo recebeu 37,4 mil denúncias de agressões, de casos de violência contra o idoso. Esse número representa um aumento de 13% em relação a 2017. Qual é o impacto da violência na saúde física e mental do idoso?
Adriano: A idade traz muitos desafios e limitações. Uma delas é a diminuição da capacidade (ou até a incapacidade) de se realizar o autocuidado.
Uma pessoa nestas condições fica ainda mais vulnerável física e mentalmente, pois torna-se dependente de outros (familiares ou cuidadores) mesmo para atividades simples, como fazer compras ou tomar banho.
Se o ambiente em que vive for violento, independente do tipo de violência, o idoso tende a se fechar em seu mundo. Além das sequelas físicas, alguns externam isso como perda de apetite, outros com um comportamento agressivo, e outros até chegam a perder a vontade de viver.
Revista Ave Maria: Há casos de cuidadores que, durante o trabalho, identificam sinais ou sintomas de violência física nos idosos que atendem? Nestes casos, o que eles devem fazer? Alertar as autoridades policiais, talvez?
Adriano: Sim, há casos como este. Ninguém pode se omitir nessas situações, isto seria crime segundo o Estatuto do Idoso. A primeira orientação é procurar a família e reportar o ocorrido.
Caso não haja resposta ou seja a própria família a responsável pela agressão, pode-se tentar os profissionais de saúde que atendem o idoso, instituições como a Central Judicial do Idoso (ou equivalentes disponíveis em alguns tribunais de justiça estaduais) ou ainda a própria Abeci (Associação Brasileira dos Empregadores de Idosos) para receber orientações.
Caso a violência seja constatada, deve-se acionar as autoridades (através do 190 da polícia).
(Continua abaixo)
No que diz respeito às principais maneiras de prevenir atos de violência contra o idoso, sejam eles de qualquer natureza, destaca-se o acompanhamento constante da família, ou seja, um idoso abandonado ou incapaz de realizar o autocuidado tem chances aumentadas de ser vítima de algum tipo de violência.
Cabe ressaltar a importância de treinamentos adequados para que seja oferecido um atendimento de qualidade e constante, mesmo que por cuidadores familiares.
No vídeo a seguir, apresentamos táticas efetivas e testadas para evitar que seus entes queridos sejam vítimas de maus tratos em ambiente doméstico.
Entrevista (continuação):
Revista Ave Maria: Cerca de 60% das agressões ocorrem dentro de casa e dois terços dos agressores são os próprios filhos. Por que isso acontece? Por que o idoso é tão agredido no lugar onde deveria se sentir mais seguro e protegido?
Adriano: Muitas vezes por questões financeiras. Idosos ainda são responsáveis pelo sustento de muitos lares, e a medida que a idade avança, conflitos sobre o que fazer com o dinheiro surgem.
Agredir o idoso pode ser uma forma de retirar sua autonomia, inclusive sobre as finanças da casa, o que significa mais liberdade para os demais moradores decidirem como gastar.
Revista Ave Maria: Que dicas, conselhos ou recomendações o senhor daria para quem está pensando em contratar um cuidador? O que fazer e o que não fazer para evitar a violência contra o idoso?
Adriano: Primeiro, definir as atividades que o cuidador vai executar. Um diário de atividades pode ajudar com isso. A partir disso, é possível pensar em contratar um cuidador.
Criamos, na Acvida, um roteiro para uma entrevista de emprego para famílias que precisam de cuidadores, está disponível em nosso site. Além disso, é importante cuidar das questões trabalhistas e, sempre que possível, instalar câmeras no local de trabalho dos cuidadores.
As câmeras, mesmo que não sejam monitoradas 24h/dia, passam o recado de que o cuidador não está sozinho com alguém incapacitado. E o mais importante: guarnecer o idoso com a companhia de seus entes queridos, entender se ele fica feliz na presença de seus cuidadores e se a atenção recebida é suficiente.
Revista Ave Maria: A violência física é apenas um dos muitos tipos de violência a que os idosos estão sujeitos no Brasil de hoje. Como mudar essa triste realidade? Por que o país trata tão mal seus idosos?
Adriano: Temos, como país, um histórico de omissão com as parcelas mais carentes da população. Com a idade média aumentando, o idoso tende a entrar cada vez mais nesta infeliz estatística, pois a partir dos 60 anos, a maioria será carente física, cognitiva ou psicologicamente.
Prego o acompanhamento constante dos familiares como a melhor forma de garantir a integridade e o bem estar do idoso.
Confira a íntegra da entrevista na seção MÍDIA.
Diferentes tipos de violência contra o idoso são tipificados no Estatuto do Idoso. Discriminar ou maltratar uma pessoa idosa pode gerar desde multa até prisão. A pena pode ser aumentada se houver agressão física ou caso o agressor seja o responsável pelo idoso.
Confira dois vídeos que separamos para você: comentários do Ministério Público de Santa Catarina sobre a violência contra o idoso.
Participação do fundador da Acvida ao jornal Bom Dia DF (06/10/2020) falando sobre a violência contra o idoso, clique aqui para assistir na íntegra no Globoplay.
Ou confira o trecho destacado no Youtube da Acvida (a seguir).
Desde 2007 existe a Central Judicial do Idoso, experiência única no Brasil e que tem contribuído para assegurar os direitos das pessoas da terceira idade e diminuir a violência contra o idoso.
A união de três órgãos (Tribunal de Justiça, Ministério Público e Defensoria Pública) com profissionais de diferentes áreas (advogados, psicólogos e assistentes sociais) que oferece um serviço diferenciado para a população protegida pelo Estatuto do Idoso.
Ao procurar a Central, a pessoa idosa é atendida e relata sua necessidade. A maioria consegue uma resposta de imediato sem instauração de processo judicial.
Além desse atendimento, a Central edita o mapa da violência contra a pessoa idosa no DF e a cartilha do idoso, além de promover palestras e fóruns com profissionais, pesquisadores e grupos de idosos.
Telefones: (61) 3103-7616 / 3103-7612 / 3103-7621 / 3103-7609
Mais informações no site do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios: TJDFT
8 Comments
Passando para fazer uma visita no blog.
O artigo ficou muito bom!
GOSTARIA DE SABER SE O IDOSO QUE SOFRE A AGRESSAO DENTRO DE CASA PODE AFASTAR O AGRESSOR
Ana, sugerimos seguir as medidas de denúncia indicadas neste artigo.
A matéria foi muito útil, para a minha pesquisa. Só fiquei desapontada, pois não terei acesso a cartilha de Amparo ao idoso.
Obrigada.
eu tenho um tio que esta sendo maltratado pela minha prima e primos,estao pegando a pensao dele e deixando ele com fome na casa que chove muito dentro alguem pra me ajudar eu moro um pouco longe e nao tenho muito recurso. quem puder me ajudar agradeço
Olá Suzaine, nossa que situação, recomendamos que fale com a Dra. Clarissa, seus contatos estão disponíveis através deste link:https://acvida.com.br/familias/direitos-do-idoso/
Ótimo artigo! Maioria das vítimas de violência doméstica e de feminicídio tem em comum uma história de relacionamento abusivo, que se desenvolveu ao longo dos anos.
Que bom que gostou, obrigado pela contribuição.