Como evitar e combater a violência contra o idoso?

A violência contra o idoso no Brasil não se resume a agressões físicas. É importante reconhecer e discutir o tema para entender como evitar.

Violência contra o idoso no Brasil

A violência contra o idoso pode ocorrer de várias formas, e define-se como “ação única ou repetida, ou falta de ação apropriada, ocorrendo em qualquer relacionamento onde exista uma expectativa de confiança, que cause dano ou sofrimento a uma pessoa idosa” (OMS – Organização Mundial de Saúde).

Quais são os tipos de violência mais comuns contra os idosos?

Os tipos mais comuns incluem a:

  • Violência física (Ex: bater no idoso):
  • Violência psicológica ou emocional (Ex: fazer o idoso sentir-se constrangido ou humilhado);
  • Violência financeira (Ex: casos de familiares de que se utilizam de recursos dos idosos para si);
  • Violência sexual (Ex: abusos físicos ou psicológicos, mesmo em conversas, quando isto for contra a vontade e princípios do idoso);
  • Violência por negligência (Ex: deixar de agir quando necessário, sejam os responsáveis pelo idoso ou ele próprio sendo negligente consigo).

Detalharemos estes e outros tipos de ação violenta ao longo do artigo.

Violência verbal contra idoso

Agressão verbal contra idosos é qualquer ação como falar num tom de voz inadequado, seja baixo demais (com fins de excluir o idoso da conversa) ou gritar de maneira ofensiva.

Ofender, ridicularizar ou criticar constantemente também são consideradas agressões verbais, assim como acusar ou culpar o idoso indevidamente.

Outras formas não verbais, como ignorar a presença, mandar o idoso se calar, abandoná-lo e não acolhê-lo (ou não demonstrar afetividade) também são consideradas formas de agressão verbal.

Violência psicológica contra idosos

A violência psicológica contra idosos pode ser difícil de identificar. Confira algumas formas de fazê-lo:

  • Há sinais de maus tratos ou negligência no corpo do idoso?
  • O idoso demonstra estar desconfortável na presença de algum familiar ou cuidador?
  • Um idoso comunicativo tornou-se calado de uma hora para outra?
  • O idoso se recusa a fazer atividades que antes eram de seu interesse?
  • O idoso responde de maneira inadequada ou desmedida a uma situação cotidiana?
  • O idoso passou a apresentar sinais de demência de uma hora para outra?
  • Surgiram dívidas em nome do idoso de uma hora para outra, ou seu saldo bancário diminuiu fora de um padrão comum?
  • Infecções ou feridas surgiram de maneira inexplicável na região genital?
  • O idoso está desidratado, desnutrido, tem descumpridas as prescrições médicas ou vive em condições inseguras?

Violência psicológica contra idoso é crime

Qualquer resposta sim para alguma das perguntas acima deve acender um sinal de alerta nos responsáveis e pessoas próximas.

“Há idosos que sentem-se melhor na presença de cuidadores introvertidos. Outros, preferem cuidadores que sejam bons para conversar. É preciso entender e respeitar as preferências do idoso em cada momento.”

Adriano Machado, sócio/fundador da Acvida

Acompanhe trechos da entrevista que o fundador da Acvida, Adriano Machado, deu à revista AVE MARIA, a publicação católica mais antiga do Brasil.

Violência

Revista Ave Maria: Qual é o impacto da violência na saúde física e mental do idoso?

Adriano: A idade traz muitos desafios e limitações. Uma delas é a diminuição da capacidade (ou até a incapacidade) de se realizar o autocuidado.

Uma pessoa nestas condições fica ainda mais vulnerável física e mentalmente, pois torna-se dependente de outros (familiares ou cuidadores) mesmo para atividades simples, como fazer compras ou tomar banho.

Se o ambiente em que vive for violento, independente do tipo de violência, o idoso tende a se fechar em seu mundo. Além das sequelas físicas, alguns externam isso como perda de apetite, outros com um comportamento agressivo, e outros até chegam a perder a vontade de viver.

Idoso

Revista Ave Maria: Há casos de cuidadores que, durante o trabalho, identificam sinais ou sintomas de violência física nos idosos que atendem? Nestes casos, o que eles devem fazer? Alertar as autoridades policiais, talvez?

Adriano: Sim, há casos como este. Ninguém pode se omitir nessas situações, isto seria crime segundo o Estatuto do Idoso. A primeira orientação é procurar a família e reportar o ocorrido.

Como denunciar casos de violência contra idosos?

Caso não haja resposta ou seja a própria família a responsável pela agressão, pode-se tentar os profissionais de saúde que atendem o idoso (Ex: médico), instituições como a Central Judicial do Idoso (ou equivalentes disponíveis em alguns tribunais de justiça estaduais) ou ainda a própria Abeci (Associação Brasileira dos Empregadores de Idosos) para receber orientações. 

Caso a violência seja constatada, deve-se acionar as autoridades, por exemplo, através do número 190 da polícia).

(Continua abaixo)

Tipos de violência contra o idoso

A literatura usualmente tipifica a violência como:

O que é considerado violência contra o idoso?

  • Violência física: É o tipo mais visível, que inclui maus tratos e/ou abusos físicos como tapas, beliscões, arranhões e empurrões. Também pode ocorrer com o uso de instrumentos como cintos, lâminas e armas brancas ou de fogo.
  • Abandono e/ou negligência: É o tipo mais habitual de violência contra o idoso, que inclui omissões e privações de cuidados básicos para sua saúde e bem-estar físico. Entram ainda neste grupo a falta de proteção social e emocional, bem como negligências com higiene, vestuário, alimentação e administração correta de medicamentos.
  • Autonegligência: É semelhante ao item anterior, mas com o diferencial de que as negligências acontecem não por intermédio de terceiros, mas por conta do próprio idoso. Normalmente acontece quando a pessoa tem uma conduta que ameaça a própria segurança e não recebe ou se recusa a receber os cuidados necessários.
  • Violência psicológica: É o tipo de agressão que inclui qualquer forma de desprezo, preconceito, humilhação, hostilidade verbal e gestual. Além disso, também inclui a restrição de liberdades individuais e isolamento social que pode gerar tristeza, depressão, solidão ou qualquer sofrimento mental e emocional para a pessoa idosa.
  • Violência sexual: É a imposição ao idoso para que faça, participe ou presencie atividades sexuais sem o seu consentimento. Isso pode acontecer por decorrência de intimidações físicas ou psicológicas.
  • Abuso econômico-financeiro e patrimonial: É o tipo de violência que acontece quando alguém tenta usufruir ilegalmente dos bens da pessoa idosa. Está incluso neste item o uso de recursos financeiros ou do patrimônio sem consentimento.

Como prevenir a violência contra o idoso

No que diz respeito às principais maneiras de prevenir atos de violência contra o idoso, sejam eles de qualquer natureza, destaca-se o acompanhamento constante da família, ou seja, um idoso abandonado ou incapaz de realizar o autocuidado tem chances aumentadas de ser vítima de algum tipo de violência.

Cabe ressaltar a importância de treinamentos adequados para que seja oferecido um atendimento de qualidade e constante, mesmo que por cuidadores familiares.

No vídeo a seguir, apresentamos táticas efetivas e testadas para evitar que seus entes queridos sejam vítimas de maus tratos em ambiente doméstico.

Saiba como prevenir maus tratos a idosos em nosso canal.

Como denunciar violência contra idosos

  • Disque 100: as denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, que funciona diariamente, 24 horas por dia, 7 dias por semana (mesmo em dias não úteis);
  • Aplicativo Proteja Brasil: O Proteja Brasil está disponível para disponível para download. Utiliza a mesma central do Disque 100;
  • #HumanizaRedes: O Humaniza Redes – Pacto Nacional de Enfrentamento às Violações de Direitos Humanos permite denunciar violações de Direitos Humanos que acontecem online. Em sua ouvidoria disponível aqui também é possível registrar denúncias de maus tratos contra idosos. Utiliza a mesma central do Disque 100;
  • Através da Central Judicial do Idoso, onde estiver disponível;
  • 190: por telefone através da central da polícia local;
  • 197: denúncias de violência anônimas (Polícia Civil).

Extorquir dinheiro do idoso 

Revista Ave Maria: Cerca de 60% das agressões ocorrem dentro de casa e dois terços dos agressores são os próprios filhos. Por que isso acontece? Por que o idoso é tão agredido no lugar onde deveria se sentir mais seguro e protegido?

Adriano: Muitas vezes por questões financeiras. Idosos ainda são responsáveis pelo sustento de muitos lares, e a medida que a idade avança, conflitos sobre o que fazer com o dinheiro surgem.

Agredir o idoso pode ser uma forma de retirar sua autonomia, inclusive sobre as finanças da casa. Extorquir dinheiro do idoso muitas vezes significa mais liberdade para os demais moradores decidirem como gastar.

Violência

Revista Ave Maria: Que dicas, conselhos ou recomendações o senhor daria para quem está pensando em contratar um cuidador? O que fazer e o que não fazer para evitar a violência contra o idoso?

Adriano: Primeiro, definir as atividades que o cuidador vai executar. Um diário de atividades pode ajudar com isso. A partir disso, é possível pensar em contratar um cuidador. 

Criamos, na Acvida, um roteiro para uma entrevista de emprego para famílias que precisam de cuidadores, está disponível em nosso site. Além disso, é importante cuidar das questões trabalhistas e, sempre que possível, instalar câmeras no local de trabalho dos cuidadores.

As câmeras, mesmo que não sejam monitoradas 24h/dia, passam o recado de que o cuidador não está sozinho com alguém incapacitado. E o mais importante: guarnecer o idoso com a companhia de seus entes queridos, entender se ele fica feliz na presença de seus cuidadores e se a atenção recebida é suficiente.

Revista Ave Maria: A violência física é apenas um dos muitos tipos de violência a que os idosos estão sujeitos no Brasil de hoje. Como mudar essa triste realidade? Por que o país trata tão mal seus idosos?

Adriano: Temos, como país, um histórico de omissão com as parcelas mais carentes da população. Com a idade média aumentando, o idoso tende a entrar cada vez mais nesta infeliz estatística, pois a partir dos 60 anos, a maioria será carente física, cognitiva ou psicologicamente.

Prego o acompanhamento constante dos familiares como a melhor forma de garantir a integridade e o bem estar do idoso.

Violência física contra idosos

Diferentes tipos de violência contra o idoso são tipificados no Estatuto do Idoso. Discriminar ou maltratar uma pessoa idosa pode gerar desde multa até prisão. A pena pode ser aumentada se houver agressão física ou caso o agressor seja o responsável pelo idoso.

Pessoa idosa

Confira dois vídeos que separamos para você: comentários do Ministério Público de Santa Catarina sobre a violência contra o idoso.

Participação do fundador da Acvida ao jornal Bom Dia DF falando sobre a violência contra o idoso, clique aqui para assistir na íntegra no Globoplay.

Ou confira o trecho destacado no Youtube da Acvida (a seguir).

Perguntas frequentes

Abaixo respondemos as perguntas enviadas por nossos leitores.

Quais são os sinais de que um idoso pode estar sofrendo violência?

Primeiro devemos procurar pelos sinais físicos óbvios como fraturas, marcas na pele e hematomas. Deixo a ressalva de que muitos idosos, já com a pele fragilizada, podem ficar com marcas roxas ou vermelhas pelos simples manuseio pelos cuidadores ao dar banho e segurar ao caminhar, é necessário realmente acompanhar para entender a situação.

Os sinais psicológicos incluem um idoso que era comunicativo começar a ficar mais retraído, uma pessoa que era calma começar a ficar mais agitada, o que também são sintomas comuns a demência.

Em função dessas características que são comuns a outras situações, pode ser difícil a identificação para alguém que não acompanha o idoso de perto perceber em um primeiro momento, sinais de violência, por este motivo a importância do acompanhamento próximo dos familiares.