Dividindo a responsabilidade no cuidado a idosos: você conhece a figura do co-cuidador?

Dividir a responsabilidade no cuidado a idosos não é fácil. O cuidado compartilhado, ou co-cuidado, exige uma boa dose de atenção, uma exímia divisão de tarefas e desapego, tudo isso para focar no mais importante: a qualidade de vida da pessoa assistida e dos seus familiares.

Sim, os familiares, aqueles responsáveis pelo cuidado. O resultado de uma divisão bem feita pode ser libertador para filhos e netos, especialmente se puderem contar com a valiosa ajuda de um cuidador profissional nas cansativas atividades cotidianas do idoso dependente.

O texto a seguir é assinado por Ana Castro e por Cosette Castro, do Coletivo Filhas da Mãe, e por Natália Duarte, co-cuidadora familiar. São relatos de experiências e de casos reais bastante pertinente ao Blogdocuidado e a nossos leitores. Confira.

Responsabilidade no cuidado a idosos

Nem todo mundo que cuida de um familiar, independente da doença e do nível de dependência, cuida sozinha. Em muitas famílias, o cuidado é compartilhado e se torna um co-cuidado, com tarefas divididas entre irmãos, filhas, netos e outros parentes.

Entretanto, nem todas as pessoas que cuidam se dão conta disso. Em geral, desmerecem o co-cuidado, porque sequer o notam. Até diminuem o peso da sua contribuição ao cuidado familiar.

“Eu só ajudo” é uma frase que escutamos com frequência nas conversas do Coletivo Filhas da Mãe.  Outras pessoas nem conhecem o termo ou seu significado.

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Família

Já a professora de Educação da UnB, Natalia Duarte, nossa convidada de hoje, assumiu o papel de co-cuidadora e tirou o peso de tomar o cuidado como uma responsabilidade apenas sua.

Natália Duarte – “Sou co-cuidadora familiar há cinco anos. Primeiro da minha mãe, Maria Duarte (que faleceu em dezembro de 2020 em razão de um câncer) depois de meu pai, Ítalo, diagnosticado com Alzheimer em 2019. Nem acredito que já faz tanto tempo que cumpro essa função tão intensa e ‘ensinante’ (que tanto ensina)”.

Responsabilidade ao idoso

Somos uma família migrante que em 1970 se estabeleceu em Brasília longe dos avós, irmãos e primos. Passávamos as férias no reduto carioca, mas não acompanhamos o cotidiano de envelhecimento dos familiares. Hoje, olhando para nossa história familiar, vejo como fez falta a vivência cotidiana do envelhecimento e do cuidado com pessoas idosas.

ESTÁ ESTRESSADO? UM CUIDADOR DE IDOSOS PODE AJUDAR

Maria e Ítalo sempre foram independentes, ativos, autônomos e foi uma surpresa para mim e meu irmão, André, quando tivemos que arrumar espaço em nossas vidas aceleradas e assumir a provisão de cuidados de nossos pais. O primeiro desafio que desorganiza a vida da cuidadora familiar é encaixar a responsabilidade de outras vidas na nossa vida já tão comprimida, cheia de compromissos e problemas.

Os furos, no começo da atividade de cuidado, eram hilários.

“Papai saiu sozinho de carro? Como???” E saíamos correndo a procurar pelo pai e tapar o pequeno furo no planejamento, até então impensável, que é deixar as chaves do carro acessíveis.

O planejamento nunca, nunca dava conta de tudo. Tentamos de diferentes formas, inclusive com meu irmão e família indo morar com nosso pai, num gesto muito amoroso. Mas o cotidiano exigente e minucioso, os altos e baixos, os novos esquecimentos e deficiências, a crescente falta de autonomia e dependência continuavam a assustar e gerar novos e mais furos.

Cuidadora familiar

Creio que essa é a primeira lição que aprendi quando me tornei co-cuidadora familiar: não se controla tudo, não se prevê tudo. É preciso abrir-se ao imprevisível. E, enquanto eu tentava ter tudo sobre controle e manter minha vida anterior, eu adoeci…

A segunda lição que aprendi tem a ver com o meu processo de cura. O cuidado precisa vir, inexoravelmente, acompanhado de autocuidado. Não há possibilidade de bem-viver para quem é cuidado se quem cuida não se cuida.

CUIDE DE SI MESMO PARA SER CAPAZ DE CUIDAR DO IDOSO: UM CUIDADOR DE IDOSOS PROFISSIONAL PODE SER O BRAÇO QUE FALTA EM SUA RESIDÊNCIA

Administrar cuidado e autocuidado é um exercício cotidiano de me colocar na agenda abarrotada, de não me negligenciar. De não esquecer de mim mesma e da minha vida.

O autocuidado fica mais difícil quando não se encara de frente o temor da doença e o luto em vida que o cuidado traz quando se trata de  uma demência como o Alzheimer. No caso, do meu pai. E aí entra a importância do acompanhamento terapêutico. Compreender os sentimentos é um passo importante para o autocuidado.

Hoje meu pai é vizinho de porta e a responsabilidade no cuidado a idosos, em nosso caso, é bem compartilhada.

Idosos

Ama “morar sozinho” e mandar na casa dele! Tem cuidadoras profissionais e dois filhos co-cuidadores familiares. Vive reclamando que agora os filhos deram de querer mandar nele: “Eu sou independente desde os dez anos, vê se pode?”

É desde os 10 anos mesmo. Meu pai foi um menino trabalhador do Instituto Profissional Getúlio Vargas.

Sem autocuidado temos cuidadoras familiares adoecidas, física e emocionalmente.


O texto “Uma filha co-cuidadora” foi publicado originalmente no site do jornal Correio Braziliense em 10/06/2023 e republicado no Blogdocuidado COM o tema “Responsabilidade no cuidado a idosos” sob autorização de Cosette Castro.

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