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A arquitetura para idosos deve ser pensada para garantir a funcionalidade, conforto e autonomia, sem esquecer da segurança. Criar um projeto de casa que garante a proteção do idoso é tarefa para arquitetos e decoradores especializados, saiba mais neste artigo.
Convidamos a arquiteta Anamélia Francischetti, especialista em arquitetura para idosos, para responder às dúvidas de nossos leitores.
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A arquitetura para idosos, ramo da arquitetura voltado ao projeto de moradias para este grupo populacional, é mais complexa do que pode parecer. Duas questões principais devem ser abordadas: segurança física e segurança emocional.
Na maioria das vezes, a segurança física é privilegiada justamente em detrimento da outra, e pode ser difícil encontrar moradias bem equipadas e ao mesmo tempo aconchegantes, o que evidencia a necessidade de um especialista para orientar a família.
A moradia é bem mais do que um abrigo, na realidade, deve ser um lugar de constituição de vida, o recanto da pessoa no mundo. Um lugar de memórias passadas, experiências e sonhos, é onde a pessoa se reconhece. Exatamente por isso, a maioria dos idosos prefere envelhecer em sua própria casa contando com serviços de cuidadores profissionais.
Deve-se observar, contudo, que os níveis de capacidade funcional e requisitos pessoais são diferentes para cada idoso: uma moradia para um idoso independente é completamente diferente de uma moradia pensada para aquele idoso que possui limitações.
Apesar disso, algumas perdas são bem comuns, tais como a diminuição da audição, da visão e do tato. Assim, há pontos que podem ser tratados de forma geral, e outros que devem ser tratados de forma específica.
Via de regra, a arquitetura para idosos deve se preocupar em deixar a casa segura com base nos seguintes parâmetros:
Uma casa adaptada é capaz de evitar acidentes e estresse. Além disso, deve ser segura e confortável, funcional e prática.
Um bom projeto de arquitetura para idosos é capaz de garantir a autonomia a manutenção de uma rotina previsível, por exemplo, permitindo acesso a áreas externas para favorecer banhos de sol diários.
Certamente o idoso pode, se for lúcido, ajudar no planejamento de sua própria casa com observações relevantes ao projeto. Entretanto, a parte preventiva (relacionada a acidentes) e todo o plano arquitetônico deve ser criado por um profissional da área.
Uma casa arquitetada, ou seja, projetada por um arquiteto, sem dúvidas é mais segura para o idoso. Confira detalhes na entrevista com a arquiteta Anamélia Francischetti.
Acvida: Muita gente constrói sua casa enquanto goza de perfeita saúde sem se preocupar com a questão do envelhecimento. Em termos gerais, quais questões podem ser previstas, sem perdas funcionais ou estéticas na casa dos sonhos, antecipando as demandas que os habitantes inevitavelmente terão na terceira idade?
Anamélia: Pensar numa casa térrea a longo prazo é a primeira delas. Escolher um lote sem declives, ou resolver desníveis com rampas ao invés de escadas. Caso o cliente já tenha uma casa de 2 pavimentos por exemplo, pensar na alternativa de instalar um elevador ou cadeiras elevatórias são instaladas nas escadas.
Transferir os cômodos para o térreo pode ser uma alternativa em conta. Para o caso de apartamentos, verificar a largura dos vãos das portas, corredores e box do banheiro antes de comprar ou reformar (detalhes e medidas recomendadas ao longo da entrevista).
Acvida: Quais fatores são mais relevantes na hora de se pensar uma residência para pessoas da terceira idade? Qual o básico da arquitetura para idosos?
Anamélia: Vãos com no mínimo 80cm livres nas portas, corredores mais largos também com no mínimo 1,20m caso tenha que entrar maca ou cama hospitalar, construir a casa sem escadas e bem iluminada.
Manter preferencialmente pintura clara nas paredes, pois reflete maior quantidade de luz, assim como o piso. Utilizar pisos antiderrapantes, barras de apoio nos banheiros e perto das janelas. Se possível, prever campainhas de emergência ou interfones/telefones no banheiro e perto do leito.
Acvida: Muitas pessoas desistem da reforma ao pensar na obra. É possível se pensar numa “obra limpa”, que não exija a saída temporária do idoso de sua residência? Em que tipo de reformas isto seria viável?
Anamélia: Depende muito da reforma que precisa ser feita. Podemos fazer as interferências por ambiente para que o idoso não precise sair de casa. No caso do projeto de arquitetura, o espaço já é pensado com todos esses detalhes.
Já na reforma temos muitas interferências. Por exemplo, se as portas forem menores que 80cm será preciso abrir o vão, isso gera entulho, sujeira e desconforto.
Acvida: Quais são as medidas mínimas para se evitar problemas com andadores, cadeiras de rodas ou cadeiras de banho?
Anamélia: Além das medidas já citadas (portas com 80cm no mínimo e corredores com no mínimo 1,20m de largura), é importante pensar nas áreas de giro (por exemplo onde a cadeira de rodas deverá ser manobrada) com pelo menos 1,50m de diâmetro.
Acvida: Portas de correr podem ser uma alternativa para facilitar a vida dos idosos e aumentar os vãos? Como evitar a questão dos trilhos no piso?
Anamélia: A questão do trilho no piso remete ao perigo de tropeçar, para aqueles idosos que deambulam, ou se tornar um obstáculo para cadeirantes. Existem opções (trilhos) que ficam instalados na parte superior da porta, ou guias escondidos no piso.
Acvida: A iluminação também é uma questão problemática para muitos idosos, pois a visão tende a ficar prejudicada com a idade. Em termos gerais, o que ser feito para manter os ambientes adequadamente iluminados?
Anamélia: Essa questão é muito importante! A casa precisa ser bem iluminada durante o dia, com iluminação natural, projetada com janelas e portas de correr largas. Durante a noite é preciso haver pontos bem distribuídos no teto, paredes com arandelas, corredores e quartos com balizadores para uma ida ao banheiro na madrugada, por exemplo.
Na cozinha, sugiro o uso dos perfis de led, abaixo dos armários superiores, para iluminar a cuba da pia e a bancada. As cores das paredes influenciam muito, precisam ser claras para a reflexão correta da luz.
Acvida: O risco de quedas é uma constante quando se trata de idosos. O que pode ser sugerido neste sentido?
Anamélia: Evitar usar escadas, preferir as rampas ou pisos retos com revestimentos antiderrapantes. Há porcelanatos, pisos emborrachados, cimentícios, fitas antiderrapantes (transparentes) e barras de apoio para tal finalidade.
Acvida: Mesas de centro e outros objetos soltos podem ser vilões na arquitetura para idosos? Como evitar ou minimizar seus riscos?
Anamélia: Podemos usar mesas de centro de preferência arredondadas, e eliminar o uso de tapetes, pois podem fazer o idoso escorregar ou tropeçar mesmo se fixados ao piso. Manter o ambiente sem muitos móveis e adornos, algo mais limpo, é mais indicado para evitar acidentes.
Acvida: Casos em que os idosos se esquecem com facilidade das coisas (como no caso da doença de Alzheimer), estantes e prateleiras abertas podem ser uma alternativa aos armários fechados, por exemplo, na cozinha e na sala?
Anamélia: Sim, mas mantendo a organização para não perder a estética (risos). Cuidadores podem e devem ajudar com isto.
Acvida: O banheiro concentra muitos dos riscos aos idosos e seus cuidadores. Poderia dar dicas de como minimizar potenciais problemas?
Anamélia: Projetar boxes maiores, que caibam 2 pessoas confortavelmente, ainda mais se o cliente fizer uso de cadeira de rodas ou andadores. Não prescindir de vãos largos para entrada e saída, além de não se esquecer do espaço para manobra.
Também não se recomenda colocar vidro temperado que precise de trilho no piso. Utilizar pisos antiderrapantes, barras de apoio, banco de apoio para sentar dentro do box (abaixo do chuveiro) ou fitas adesivas. Evitar tapetes nos banheiros também é boa prática de segurança.
Acvida: Os custos para uma reforma ampla pode ser um empecilho para as famílias. Há alternativas de baixo custo para implementar, pelo menos em parte, algumas destas recomendações?
Anamélia: Executar por ambiente é uma alternativa que não tira o cliente de sua residência. Com um bom planejamento financeiro e do cronograma, é possível encaixar a demanda à realidade da obra, sem onerar demais o cliente.
Acvida: Gostaria de dar alguma dica ou orientação adicional para quem está pensando em construir ou reformar sua residência?
Anamélia: Todos podemos ser portadores de necessidades especiais em algum momento, seja pelo decurso do envelhecimento, seja por um acidente.
No caso de se quebrar uma perna, por exemplo, e haver necessidade de se usar muletas, como fazer para subir uma escada? Não seria interessante planejar seu quarto no pavimento térreo da casa, com acesso a um banheiro que permita adaptações? E no caso de se receber uma visita (hóspede) que seja cadeirante, há espaço e condições para recebê-la?
As residências precisam ser pensadas para todos e em todos os momentos.
Anamélia Francischetti é graduada em Design de Interiores pela Universidade Federal de Uberlândia, e ainda graduada em Arquitetura e Urbanismo e Técnica em Edificações. Está há 17 anos no mercado brasiliense, executando reformas e projetos de arquitetura e interiores.
Anamélia Francischetti, telefone (61) 3468-1724, whatsapp (61) 99271-6832
Endereço eletrônico (site): www.anafrancischetti.com.br
Instagram: ana_francischettiarquitetura
Escritório: Shopping Deck Norte, sala 303, Lago Norte, Brasília-DF.