Idosos com Mal de Alzheimer ou Mal de Parkinson podem ter alívios nos sintomas se bem acompanhados por um cuidador? Idosos com outros tipos de demência também podem se beneficiar? Acompanhe abaixo.
A ciência tem buscado medicamentos que possam evitar ou minimizar os transtornos causados pela Doença de Alzheimer e outras síndromes demenciais. Infelizmente, apesar de muita expectativa, não houveram grandes avanços nos últimos anos.
Felizmente, rotinas de cuidados paliativos bem feitos podem contribuir para que cuidadores e familiares melhorem significativamente a qualidade de vida dos idosos e dos familiares que convivem com a rotina do doente. São coisas simples, que se estabelecidas e seguidas através de uma ferramenta como um diário de atividades gratuito, podem fazer com que um cuidador ajude significativamente aqueles acometidos pelo Alzheimer.
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ToggleMas como um cuidador pode, na prática, evitar ou aliviar um quadro de demência semelhante ao da Doença de Alzheimer?
1) Garantindo a manutenção da oferta e consumo de água
Muito se fala em beber mais água, mas poucos sabem que um quadro de baixa ingestão de líquidos (água principalmente) gera sintomas semelhantes à demência em idosos.
Beber pouca água faz mal a qualquer pessoa, isso ocorre porque a água é vital para o funcionamento correto de nosso organismo, responsável pela manutenção (dentre outras coisas) pelo equilíbrio térmico do nosso corpo, do transporte de nutrientes (pelo sangue), por promover a desintoxicação, dentre outros pontos delicados no organismo. Os idosos que bebem pouca água sofrem ainda mais do que pessoas adultas saudáveis.
Por que tomar cuidado com o idoso que costuma beber pouca água?
Beber pouca água realmente pode ser um problema para os idosos, isso porque os mesmos possuem menos água em seu organismo, abaixo do nível de um adulto normal. Sendo assim, os idosos não somente se desidratam com facilidade, mas acabam sofrendo ainda mais com os efeitos desse quadro.
Nessa fase da vida, o mecanismo responsável por avisar que é o momento de ingerir líquidos já não funciona da mesma forma, o organismo simplesmente não entende que é o momento de se hidratar. Se a pessoa teve o hábito de beber pouca água ao longo da vida, a situação tende a se agravar.
No idoso, a homeostase (a condição de relativa estabilidade da qual o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo) funciona de maneira mais delicada, e os sintomas da desidratação podem surgir apenas em quadros mais avançados e graves. O cérebro até identifica que necessita se hidratar, mas pode não conseguir avisar ao corpo a tempo, dificultando o restabelecimento da homeostase. O idoso, ao apresentar níveis baixos de líquidos no organismo, pode então apresentar alguns sintomas tais como: confusão mental, falta de memória, dentre outros problemas.
Quais são os principais sintomas da desidratação em idosos?
- Sensação de fraqueza
- Tontura (semelhante a que acontece quando nos levantamos rapidamente)
- Urina concentrada (escura), favorecendo quadro de infecção urinária: mais detalhes aqui.
- Lapsos cognitivos, dificuldade no raciocínio, problemas na memória, dentre outros.
É importante citar que, enquanto os três primeiros sintomas são urgentes e facilmente identificáveis, o quarto pode passar despercebido e ser confundido com um início de um quadro demencial (como o Alzheimer).
Quanto de água tomar por dia?
A quantidade de água recomendada para idosos saudáveis gira em torno de 30 ml por quilo de peso corporal, ou cerca de 2 litros para um adulto médio (cerca de 70kg). No entanto, é importante salientar que a quantidade muda de acordo com cada pessoa, sendo que algumas variantes acabam entrando em jogo, como por exemplo o uso de medicamentos para pressão alta ou outros com ação diurética. Aqueles idosos que moram em regiões mais quentes, que praticam atividades físicas regulares ou que tem problemas renais devem se hidratar de forma diferenciada. Consulte seu médico e jamais beba pouca água.
Um cuidador pode auxiliar com seus serviços profissionais. Medidas simples como dividir os goles tomados (para estimular aqueles que tem resistência à tomar água pura), guardar os copos ou anotar o volume tomado ao longo do dia, podem auxiliar para que um baixo consumo não prejudique os idosos assistidos.
2) Fazendo o idoso ouvir música, estimulando sua mente e realizando com ele(a) atividades prazerosas
Muitas famílias reportam melhoras significativas nos quadros demenciais de idosos estimulados de maneira sistemática (aqueles que tem atividades para o cérebro inseridas em sua rotina diária). Coisas corriqueiras como jogar baralho, dominó ou mesmo bingo podem render mais do que diversão para os idosos.
Psicólogos da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, afirmam que esses jogos ajudam a proteger as capacidades cognitivas na velhice. O estudo acompanhou mil pessoas com mais de 70 anos ao longo de uma década. Sem surpresa, aqueles que tinham o hábito de jogar estas modalidades apresentavam melhores resultados nos testes de memória, maior velocidade de raciocínio e menor declínio cognitivo nos testes de longa duração.
Outra boa notícia é que esses benefícios podem surgir mesmo quando essas atividades são incluída na rotina já na terceira idade.
Embora as habilidades de pensamento de algumas pessoas possam diminuir à medida que elas envelhecem, essa pesquisa é mais uma prova de que esse fenômeno não precisa ser inevitável”
Caroline Abrahams, uma das pesquisadoras que desenvolveu o estudo.
Alguns pesquisadores acreditam-se ser possível “rejuvenescer” o cérebro com a “ginástica adequada” que nada tem de complicada, apenas precisa ser inserida na rotina (exatamente o que faz um cuidador). Um exemplo corriqueiro é estimular-se a fazer contas “de cabeça” ao invés de utilizar uma calculadora no dia a dia. Para conhecer o estudo original, clique aqui.
Recentemente escrevemos sobre como a música pode contribuir para a memória de idosos e para a socialização familiar, corroborando o estudo acima.
Mesmo quando acompanhado por profissionais que prescrevam as atividades, como um psicólogo ou terapeuta ocupacional, é o cuidador quem acaba por desenvolver a rotina na maior parte do tempo do idoso, por isso incluí-lo e motivá-lo para realizar as atividades é essencial para a saúde mental de idosos e pessoas dependentes.
3) Mantendo uma alimentação equilibrada
Já falamos sobre como uma dieta equilibrada pode combater os efeitos do Alzheimer, mas de nada adiantará a prescrição da dieta se não for seguida. Em muitas residências o cuidador é o responsável por preparar a alimentação do idoso, e em quase todas é ele(a) que fará a oferta, mais um exemplo de como o cuidador pode contribuir para a saúde cognitiva de um idoso.
4) Garantindo a oferta de medicamentos de acordo com a prescrição médica
O brasileiro tem o hábito (perigoso) de seu automedicar, basta ir ao balcão de qualquer farmácia para realizar a constatação. Uma das consequências disso passa a ficar mais clara com um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, que analisou dados de quase 65 mil voluntários. O consumo excessivo de antibióticos pode fazer com que uma pessoa fique predisposta a ter Parkinson até 15 anos depois. O resultados da pesquisa é alarmante para a saúde do cérebro, visto que um dos sintomas da doença de Parkinson é exatamente um quadro demencial.
“Nossos resultados sugerem que alguns antibióticos comumente usados, conhecidos por influenciar fortemente a microbiota intestinal, podem ser um fator predisponente”
Filip Scheperjans, líder da pesquisa.
O mais alarmante é que as associações mais fortes foram encontradas com o uso de antibióticos de amplo espectro, os mais prescritos no mundo.
Uma das funções do cuidador de idosos é garantir que a os medicamentos sejam tomados conforme prescritos, adequando o consumo de remédios por idosos ao estritamente solicitado pelos médicos, minimizando assim as possibilidades de intoxicação medicamentosa imediata ou futura, com consequências danosas à saúde física e mental dos idosos.
5) Regularizando uma rotina de atividades físicas
A saúde do cérebro pode estar mais intimamente ligada a uma rotina de exercícios do que se imagina. Pesquisadores da Universidade Duke (EUA) afirmam que “aos 45 anos, os caminhantes mais lentos tendem a ter um envelhecimento ‘acelerado’ de funções cognitivas e de outros sistemas fisiológicos, como o aparelho pulmonar”, o que aumenta com a idade. A relação entre um estilo de vida saudável e um corpo saudável é bastante conhecida, inclusive porque exercícios são capazes de melhorar a oxigenação cerebral (e do corpo como um todo), mas o estudo foi pioneiro em alguns pontos.
Exames de ressonância magnética mostraram que os caminhantes mais lentos tendiam a ter menor volume total do cérebro e menor espessura cortical média. Por outro lado, apresentaram maior incidência de “hiperintensidades” da substância branca (pequenas lesões associadas à doença cerebral de pequenos vasos).
Segundo os cientistas, esta combinação de características sinaliza que o cérebro parece mais velho, assim como a aparência física desses participantes, como avaliado por voluntários.
Enquanto os exercícios não são capazes de rejuvenescer, uma notícia ruim para os sedentários, podem acelerar o metabolismo e tornar o corpo mais “esperto”, algo facilmente observável como nos conta o médico aposentado João Mariano, 89 anos, fumante e sedentário por mais de 40 anos e que somente após um câncer de próstata resolveu estabelecer uma rotina semanal de atividades em academia.
“Sinto mais disposição e vitalidade após os treinos. Não é benefício apenas físico, minha cabeça também funciona melhor. Meus filhos foram os primeiros a notar a diferença” afirma.
Desta forma, ao executar a rotina de exercícios prescrita por profissionais de fisioterapia e educação física, um cuidador é capaz de contribuir para a saúde física e mental dos idosos que assiste.
Espero que seja útil. Até a próxima.